Ao menino Sírio Para Firmino Rocha
Não tinha um fuzil o menino Queria apenas ser menino Viver como menino.Não há maio de Firmino nem setembro, nem dezembro Nem mesmo há mais o menino
(Set/2015)
___________________________________ Tempo ainda
Que o que me restaseja terreno fértilpara a semeaduraNão seja eu a lavrá-lo
Que possuído o sejapara que o todo vejaque parte de mimexiste pleno e doador
Que haja eternidadeem tão sublime instantequando o todo machofecundado pelo fêmeo
descortine o que somosTempo? não o percamos!
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Sonho comoa pedra
O sonho levede quemsonha
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Liberto sinto
o sonho
qualquer
que seja
Porque
não há sonho
que não liberto
esteja
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O peso do sonho
Como pena
a minha luta
pesa
às vezes toneladas
outras, nada
Se afunda ou nada
a pena pesa
conforme
a saga
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Arquitetura
Não quero
construir
vilas
prédios
modernas
visões
do estético
cimento
Tampouco
pretendo
com minha arquitetura
refletir
o concreto
De minha prancheta
surgirão novos prédios
para ofertar ao homem
um novo mundo
velho projeto
de um neo arquiteto
Não quero
conhecer novas formas
de cálculos
Quero, apenas,
construir
... sonhos.
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Angústia
Angustia-me
como poeta
não ser Pessoa
e triste descubro
que até como
pessoa
não sou poeta
Sonho apenas
choro o povo
clamo por voz
verso o sonho
Nem Medauar sou
em poema
para meu
neto
Ao menino Sírio
Para Firmino Rocha
Não tinha um fuzil o menino
Queria apenas ser menino
Viver como menino.
Não há maio de Firmino
nem setembro, nem dezembro
Nem mesmo há mais o menino
(Set/2015)
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Liberto sinto
o sonho
qualquer
que seja
Porque
não há sonho
que não liberto
esteja
_________________________________
O peso do sonho
Como pena
a minha luta
pesa
às vezes toneladas
outras, nada
Se afunda ou nada
a pena pesa
conforme
a saga
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Arquitetura
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Alquimia
Plínio, Caldas, Firmino
Santal, Maria Buna
Eva Lima, Sabará
Geny, Helio Nunes
Mariá
Concreta a poesia
concreto o povo
o sabiá
Se longe vai
o poeta
longe vai
o sabia
o sabiar
Cadinho
grapiúna
cultura
e voz
deste
meu
pensar
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O artista em seu mister
O Cachoeira artista
produz
traduz
estilos
brincando
em seu espelho
tela
com as coisas
que o homem
construiu
à volta
Pede
manhoso
que não lhe tirem
a tela
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Marimbeta
Divisada
madre
escondes hoje os segredos
de tua gestação
Artífice do projeto
do desbravador
fostes viga a sustentar
os barrotes
da esperança
no novo mundo
do Amor Divino
Loba
de outros rômulos
alimentastes
o sonho
de uma civilização
encontrada
em cesto
ofertado
por divina
vestal
às águas
que te banham
Em teu seio
acolhestes
os arcontes
da história
e do futuro
do teobroma cacao
Gênesis
Vaapt... planc
Vaapt... planc
Vaapt... planc
Vaapt...
planc
Vaapt... planc
Vaapt...
planc
...
Reeeeeeeeec
Chhaaaptuuum
– Taboca!
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Se pudesse
vê-la
nesse olhar distante!
Tê-la?
é circunstância
de rima
Não de estima
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Awa'pé
A ilha flutua
nua
indiferente
aos pudores
do poeta
que a contempla
Baila
diáfana
e
exangue
deixando-se levar
não quer saber para onde
Perde-se
em felicidade
vivendo amores
flertando olhares
reina
Uapé
mururé
Devaneia
fêmea
noiva em prima noche
feliz
plena
rodopia
deslumbra
antropófaga
s a n
e o r p i a
c
A ilha
flutua
nua
no rio
ilha
de baronesas
no cio
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Paranoia
Quando vestira verde
disseram-no integralista
Quando usara amarelo
Disseram-no “impaludista”
De negro
facista
De vermelho
comunista
E de cor em cor
tanto ouviu
e se impressionou
que um dia andou nu
Então prenderam-no
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A João Cabral de Melo Neto
A medida
do homem
é a morte
mais a vida
Talvez
não a morte
mas a vida
Se a vida
não a morte
Somente há morte
se há vida
Esquecido
de que existe
deixou o homem
de ser vida
tornou-se morte
Talvez só
ou na morte
ou na vida
encontre o homem
sua medida
Descamba o homem
entre a morte
e a vida
consumido em uma
industriado em outra
Corre sinuoso
em vida
a morte
contorcida
Entre a vida
e a morte
não encontra
ainda o homem
sua medida
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O menino e o sonho
A Sebastião Salgado
O corpo
cai
sem alma
sobre o resto
humano
O olhar
vago
distante
do nada
é apenas olhar
Não tem o que perceber
do que existe em volta
e o que em volta existe
não permite crer
Sentimento ausente
de clone intergalático
alheio ao que não entende
nem pressente
Ainda crê em Deus?
– Talvez, talvez
Se por comida
ainda tem a terra
crua!
A herança mesma
dos pais que
viveram sob o
sonho
que não tem
Antes que tudo acabe
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As andorinhas de Itajuípe
Antes que tudo acabe
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As andorinhas de Itajuípe
A noite
começa a esconder
a domada cabeleira da tarde
das andorinhas de Itajuípe
E a gente
simples, reencontrando
a natureza, aflora às ruas
para ver
as andorinhas de Itajuípe
E todos se encontram
em esquecida infância,
olvidando o hoje e o agora
com as andorinhas de Itajuípe
E vivem
plenamente,
na canção que a tarde eleva
do coro
das andorinhas de Itajuípe
E, nas divagações do poeta,
as andorinhas
o
ã
v
e
v
ê
m
num pincelar vangoghiano
sobre o entardecer
de Itajuípe