Depoimentos publicados no itororó.net (revisados)
DOS PRIMÓRDIOS AOS PRIMEIROS PASSOS (I)
De Itapuhy (ainda Cabeceiras do Colônia) daquele 26 de abril de 1926, até 1956, marco zero da proposta destes depoimentos, foram trinta anos. A destacar, a criação e instalação do Distrito, em 1935, que mudou de nome no início da década dos 40.
De Itapuhy (ainda Cabeceiras do Colônia) daquele 26 de abril de 1926, até 1956, marco zero da proposta destes depoimentos, foram trinta anos. A destacar, a criação e instalação do Distrito, em 1935, que mudou de nome no início da década dos 40.
Para o menino sertanejo, chegante fugido da seca nos idos daquele outubro de 1955, pouco sucedeu até o advento da independência municipal, ressalvados a descoberta do Rio Colônia e suas cheias grandiosas, das chuvas intermitentes, do verdor esfuziante cobrindo as serras, das piculas atrás dos quero-queros na lagoa de “seu” Janga, da Escola Ruy Barbosa da Professora Carmelita Santana, da inauguração do Grupo Escolar Getúlio Vargas no chuvoso 15 de novembro de 1956, do seminarista Fernando de Boaventura, de Valmisão desafiando a ladeira lamacento-avermelhada da Rua da Cancela assim que chovia, da Rabada Gorda no Cachorro Assado, das compras na venda de “seu” Chuva, da padaria de “seu” Buarque, das queijadas de D. Idalina, da festa adrianina de Vavá Garcia por ter ganho na Federal.
Até que 1958 se fez presente no imaginário com o foguetório da Emancipação conquistada. Mais destacado que o da inauguração do primeiro banco do ainda Distrito de Ibicarai – a Cooperativa de Crédito e Banco dos Agro-Pecuaristas de Itororó Resp. Ltda – ocorrida no dia 3 de agosto, autorizado pela então SUMOC desde o dia do Padroeiro. Festa maior, somente vira no 29 de junho, quando o Brasil conquistou a Jules Rimet pela primeira vez e a Rua Itabuna (no trecho que veio a ser JK) foi lavada de cerveja, tanta a consumida na euforia do inédito título, que tirava o Futebol Brasileiro do “complexo de vira-lata” nelsonrodrigueano, agora superado pelas entrevistas concedidas pelos torcedores eufóricos a “seu” Leônidas, no serviço de auto-falantes localizado na futura sapataria de Tavinho e Milton “Graia”.
DOS PRIMÓRDIOS AOS PRIMEIROS PASSOS (II)
O lugar, acostumado às refregas entre grupos vaqueiros da Cabana da Ponte e da Santa Maria, dos tiros e facadas no palco da Rua do Guarany às sextas e sábados, chocou-se com a “morte anunciada” de Zé Mocotó, que levou de roldão uma mãe de família, que não resistiu ao sangue da vítima borbotando da agonia no batente de casa.
Ensaiou escola de música (com mestre Pedro Lima) e a eleição em 3 de outubro deu a certeza de que Itororó tinha certidão de nascimento – mesmo que não lavrada por Kardelina Noronha de Oliveira e sua letra, mais arte que caligrafia – materializada na posse do primeiro prefeito, aos 7 de abril do ano seguinte. Naquele 1959, no limbo da lembrança, o início do novo campo de futebol, que daria lugar ao Estádio Odilon Pompílio, nascido da lâmina do bissexto besouro da região, pertencente ao inesquecível fazendeiro.
Acompanhando a organização do município, destaque-se a sua prefeitura no prédio que veio servir de moradia a Antônio Nunes, antes de transferida para a recém edificada sede da Cooperativa (o mais alto da cidade), rivalizando em pompa com o Ed. Euracy, todos submetidos ao revestimento da “pastilha” em vez da pintura tradicional. O Euracy, voltado para a Castro Alves, que logo se viu ocupada pelo traçado de uma praça que se respeitava; a Cooperativa, desafiando o velho largo de entulho dos sapateiros, despertando a expansão urbana que a terrinha exigia, abrindo caminho para a futura Avenida Manoel Novaes e a praça que se tornaria “da feira”, para substituir a vermelho-quiabento “da Igreja”, permanente exercício de equilíbrio em sábados de chuva para os que faziam compras.
E pela primeira vez ouviu falar no surgimento de um bairro: o Manoel Oliveira, extensão à moradia do fazendeiro, destinando área à edificação da nova matriz de Santo Antônio (um fim de mundo!, para os críticos) – acalentado sonho do Comendador João Alves de Oliveira – demonstrando estar o lugar a caminho do desenvolvimento, amparado na iminente instalação da fábrica de café de Juca Leão, na Rua Itabuna, que dava novos ares à industrialização da rubiácea, antes limitada a Valdemar da torrefação, na Rua Apertada.
OS ANOS 60 (I)
Quando o 1960 surgiu trouxe o Ginásio Juracy Magalhães (instalado no Grupo Escolar Getúlio Vargas), Exame de Admissão viabilizando o ingresso de seis dezenas de eufóricos fardados de cáqui (calça e blusão) e gravata preta sobre a camisa branca – os meninos – e blusa branca e saia azul-marinho escuro – as meninas – alimentando a indústria de confecções de Julinho, Jaime, Valdo Xavier, Edirani, D. Zilda, D. Nair e D. Anésia.
Ouvia Ângela Maria, Anísio Silva, Gregório Barrios, Ivon Cury, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Orlando Silva, Marinês e Sua Gente, Sílvio Caldas, Blecaute, Luiz Vieira, Gordurinha, Carlos Galhardo, Jackson do Pandeiro, Carlos Gonzaga, Altemar Dutra (entre outros tantos), rock, twist e huly-guly, o ângelos e mensagens “de amor” pela “voz” dos auto-falantes de Domingos da Cooperativa, Valdenir e este autor, cada um ao seu tempo.
Na esteira, o futebol trazia a lume o 22 de Agosto, de Waldélio Campos, para rivalizar com o Grêmio, de Agostinho Costa Santos. Diziam alguns, e a maioria nunca percebeu se verdade, que por trás da disputa alimentavam o duelo político entre Eujácio e o industrial da Sergipana.
Até 1961 Itororó alcançara o noticiário nacional na força de dois acontecimentos: a luta com Ibicaraí para a fixação de limites, de cuja guerra saiu vencedor Itamirim, que se tornou município como Firmino Alves, única solução para pacificar os contendores, que mobilizaram as valorosas “guardas municipais” (a nossa, com dois combatentes) e quase chegaram ao confronto no alto da Serra, municiando a Rádio Globo com chamada no “Jornal das 7” (que começava às 18:50): “Atenção!!! Atenção!!! Itororó e Ibicaraí, na Bahia estão em pé-de-guerra pela fixação dos limites...”, fato que chocou menos que o outro: a morte do Padre Sebastião, naquele 23 de abril de 1961, também levado às ondas radiofônico-cariocas da então Capital da República.
E chegavam as primeiras professoras nativas, recém formadas em Itabuna: Darci, Alba Cordélia, Sirlene, Neuvany, Maria Helena, Dinorá Nunes.
OS ANOS 60 (II)
O Cine Itororó (16mm),
de Bolivar, enfrentava a concorrência do Continental (35mm) – instalado onde
fora o Glória – que trouxera, como primeira exibição, o premiado Orfeu do
Carnaval, de Marcel Camus. Em meio aos faroestes e espadachins, os menores de
18 anos esforçavam-se para assistir filmes proibidos, vigiados por Zé Birrinha,
zeloso comissário de menores. A ousadia
das cenas de “E Deus criou a mulher”, “Os cafajestes” ou “Europa de noite”
(entre outros) fazia ecoar pela sala um interminável iisssshhhhhh, escândalo para as famílias, exigindo da direção o
acender da luz durante a projeção para frustrar o desrespeito.
Poucos hão de lembrar dos prefixos que anunciavam o
início das sessões em um e outro cinema: “Os pobres de Paris”, no Cine Itororó;
“La Paloma ”,
no Continental.
No Ginásio, o segundo
ano despertou a política, com a criação do Grêmio Estudantil Padre Sebastião
Alves sob as lideranças de Almir Gonçalves e Gilton Alves, comandando excursões
e eventos culturais, interagindo o mundo estudantil local com Itajuípe, Nova
Canaã etc.
A propósito do
Ginásio, há um segredo em torno das peças e figuras geométricas (que faziam a
festa de Prof. Oscar Brasil nas aulas de desenho), quanto à origem, que
deixamos aqui como desafio aos detetives!!!
Um helicóptero, trazendo o candidato Waldir Pires, descera no campo de futebol, alvoroçando a cidade e Eujácio Simões se elegeu Deputado Estadual, quando vivíamos, ao lado de Givaldo, a defesa da nacionalidade na verve de Nascimento do armazém de cacau, enquanto o mundo aprofundava a Guerra Fria e temíamos a nuclear como fruto da crise dos mísseis que a então União Soviética instalava em Cuba, que ousara enfrentar o poderio estadunidense.
No dezembro de 1962 João Alves de Oliveira (primeiro escrivão e tabelião) foi agraciado com a Comenda São Gregório Magno, da Santa Sé, outorgada pelo papa João XXIII, recebida no 11 de fevereiro de 1963, em missa de Ação de Graças celebrada pelo padre Carlos Freitas, que ali também comemorava o primeiro ano de sacerdócio na Paróquia de Santo Antônio. O fato repercutiu, em março, no Diário da Tarde, de Ilhéus, então Diocese a qual integrava Itororó. Afinal, o Comendador João Alves de Oliveira passava a constituir o segundo agraciado pela Santa Sé, ao lado de Firmino Alves, de Itabuna.
Um helicóptero, trazendo o candidato Waldir Pires, descera no campo de futebol, alvoroçando a cidade e Eujácio Simões se elegeu Deputado Estadual, quando vivíamos, ao lado de Givaldo, a defesa da nacionalidade na verve de Nascimento do armazém de cacau, enquanto o mundo aprofundava a Guerra Fria e temíamos a nuclear como fruto da crise dos mísseis que a então União Soviética instalava em Cuba, que ousara enfrentar o poderio estadunidense.
No dezembro de 1962 João Alves de Oliveira (primeiro escrivão e tabelião) foi agraciado com a Comenda São Gregório Magno, da Santa Sé, outorgada pelo papa João XXIII, recebida no 11 de fevereiro de 1963, em missa de Ação de Graças celebrada pelo padre Carlos Freitas, que ali também comemorava o primeiro ano de sacerdócio na Paróquia de Santo Antônio. O fato repercutiu, em março, no Diário da Tarde, de Ilhéus, então Diocese a qual integrava Itororó. Afinal, o Comendador João Alves de Oliveira passava a constituir o segundo agraciado pela Santa Sé, ao lado de Firmino Alves, de Itabuna.
Vimos a conclusão da
primeira turma do Ginásio, em 1963, o surgimento da Escola Normal Henrique
Brito, em 1964, ano em que a terrinha descobriu as vaqueijadas, sob inspiração
dos pernambucanos Oscar e Napoleão, liderando os locais Irisvaldo “Brinco”, Zé
Osório, Deriomar, João Wilton etc., no improvisado parque do curral dos búfalos
na Cabana da Ponte, já não mais sob o comando do Coronel João Borges, agora
nome de praça.
Tempo em que a cidade
aos poucos descobria a sandália japonesa e o toca-discos portátil, trazidos por
Wilsinho de “seu” Alvino, o fogão a gás, com Zé Vaz, a galinha de granja, com
Aliomar, e o marketing, com Alves Filho. E as radiolas hi-fi começavam a ocupar
os lares.
OS ANOS 60 (III)
1964: a cidade viveu a
angústia de ver alguns de seus filhos presos pelo golpe vencedor, que destacou
preposto militar para averiguar, instalado no Gabinete do Prefeito, as ações
dos integrantes do “grupo dos onze”, que levou Brasilino quase a morrer de
susto(!) – salvo pela providencial intervenção de Derneval Landim – depois que o coronel lhe exibiu
correspondência por ele enviada ao Governador Leonel Brizola, onde afirmava
peremptoriamente que “a coisa aqui tá boa. Só falta as arma”.
Sobressalto maior só o
que colheu este autor, quando convidado por Paulo Valadares para participar de
um projeto de treinamento de guerrilha na fazenda de “seu” Manoel Cândido, na
virada de 1965, “única forma de libertar o Brasil da Ditadura”.
Nesse meio tempo, o
“Grupão”, inspirado nas orientações de Padre Antônio Melo, arrebanhava a
juventude, que descobria espaços e vocações, invadia os salões com desfiles de
moda, rock n’ roll, twist e yê, yê, yê, contraponto às serenatas de Juarez de
Zeca Dentista, Idalino, Domingos da Cooperativa e “Guarapary” de Betinho de Alvino.
E chegou a ensaiar a montagem de “Morte e Vida Severina”.
Já dispunha de
telefonia local e de dois advogados (Djalma Figueiredo e Naomar Alcântara) e aguardava o terceiro, Dr. Odoário, quando a “luz” do Funil e o Banco de Fomento do Estado da Bahia redimensionaram
a vida local.
Surgia o Bairro do Lomanto, encurupitado além do Manoel Oliveira, como solução primeira para retirar as vítimas das enchentes no Cachorro Assado.
Surgia o Bairro do Lomanto, encurupitado além do Manoel Oliveira, como solução primeira para retirar as vítimas das enchentes no Cachorro Assado.
Vardinho Pedreiro
liderava os operários da construção civil, enquanto a política fervia a disputa
entre Eujácio Simões e Henrique Brito, então prefeito que ensaiava debutar na
Assembléia Legislativa a partir de 1967, proeza alcançada graças à costura
política elaborada por Dr. Sinval Palmeira em torno da candidatura única de
Agostinho Costa Santos, que deveria, segundo o idealizador, maturar um período
de paz para as disputas políticas locais. Que só durou até aquele 1966.
E enquanto aprendiam a
dançar rock, cha-cha-chá, bolero e mambo liam Hermann Hesse, Antoine de Saint Exupéry,
Graciliano, José Mauro de Vasconcelos, Júlio Ribeiro, Jorge Amado,, Freud,
Proudhon, Adelaide Carraro, Zéfiro, Erich Fromm e se deliciavam com o Pif-Paf
de Vão Gôgo e o Amigo da Onça de Péricles.
OS ANOS 60 – (IV)
Os Beatles haviam sido
descobertos e The Animals e The Roling Stones faziam o juízo, Roberto Carlos já era Rei da Jovem
Guarda quando o Tropicalismo se ensaiou.
Quando Itororó se viu
nos dez anos, terceiro prefeito e dois Deputados Estaduais (Eujácio reeleito),
já se tornara sede de Comarca há mais de dois, com Juiz e Promotor, tivera o
primeiro Júri e assistira Raimundo Lima, debutando a filha Iara como assistente
de defesa, quase libertar Délcio Pindaíba, que esfaqueara Edgar na Rua da Cancela.
Aos domingos dançava
com “Os Curiangos” e vibrava com programas de auditório de Miro, até quando o
permitiu Paulo Dantas (o último programa da série decidiu a disputa de
calouros, imortalizando Orlando “Seleiro”, perante a quase totalidade de um
auditório em delírio como nunca mais se viu).
Não perdia
apresentações de Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Adilson Ramos, Agnaldo
Timóteo, Waldick Soriano (decantado freneticamente por Valmir Rosa). Até
Virgínia Lane aqui esteve, com espetáculos no palco do Irapuã e no Clube Social.
Como o internacional The Inocents, cover dos Beatles.
Passava ao largo do
golpe dentro do golpe, acompanhando pelo rádio os Festivais de Música do Sul e
as notícias permitidas, lendo a experiência jornalística de Hélio Nunes e
aguardando o embate político que viria entre as sub-legendas da agremiação
governista no ano seguinte.
E começou a descobrir
a modernidade com a televisão invadindo os lares mais aquinhoados, ainda que
mais chuvisco que imagem, desencadeando o promissor comércio da venda de televisores,
quando uma das últimas eleições da Rainha do carnaval anunciou a decadência do
evento, antes comemorada tradição e o último Zé Pereira alegrou a manhã do
domingo de Carnaval.
OS ANOS 70 (I)
A década despertou com a criação da Escola Técnica de Contabilidade Agostinho Costa Santos, passando a rivalizar com a Escola Normal Henrique Brito a oferta de ensino médio, tudo transformado
Conheceu ruas
asfaltadas e a “água tratada”, quando inaugurado o sistema SAAE, ainda em 1970,
canalizando o Macuco para o alto da Jaqueira, quando viu o prefeito Agostinho tomar banho em plena Avenida JK para cumprir a promessa que fizera de que se lavaria em plena rua com água do Macuco.
Se a conquista
definitiva da Jules Rimet refizera a alegria itororoense, em depressão
futebolística desde a Copa da Inglaterra, se encontrava salva pelo heroísmo do
futebol local, nos eternos embates entre Grêmio e 22 de Agosto e acompanhava
desde 1968 um tal de Botafogo de Osias “Direto”, patinho feio como um certo
Bahia nos idos de 63/64.
Naquele 1971, a criação da primeira
Liga de Futebol local e o campeonato municipal por ela promovido.
O Hospital
redimensionou de importância o município no conceito regional, quando vitorioso
o sonho de Dr. Alcebíades Cunha Filho, em 1974, ano em que Itororó elegeu um Deputado
Federal (Henrique Brito) e manteve o Estadual, Eujácio Simões.
Lá pelo meio da década
apareceu a TFP, expressão conservadora e reacionária, cabeça de ponte da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição,
Família e Propriedade, posta a correr por um indignado morador, frustrando a
propaganda ideológica contra a “abertura lenta, gradual e irrestrita” anunciada
pelo regime militar e a venda dos livros, limitada a três (somente “seu”
Ubaldo, Dozinho de Itati e Roque Borges adquiriram um exemplar).
OS ANOS 70 (II)
Naomar Alcântara, que
ensaiara ingresso na política ao conseguir expressiva votação para Juthay
Magalhães (o pai), em 1974, preparava o terreno da ascensão de Zeca Pinto, o
que ocorreu em 1976, e assegurou o início de sua carreira como o segundo
Estadual eleito, em 1978, fazendo de Itororó um bissexto pequeno município, a estufar o peito de orgulho por ser domicílio eleitoral de três deputados (um
federal – Henrique – e dois estaduais – Eujácio Simões e Naomar Alcântara).
Na segunda metade da
década dispunha de cinco casas bancárias (a pioneira Cooperativa, o Bradesco –
ex-Banco da Bahia – o BANEB, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica) e via a
Cabana da Ponte ser pouso de “estrangeiros” do mundo todo em visita à Central
de Inseminação da agora Cabana da Ponte Agropecuária Ltda., materializada
utopia de Sinval Palmeira.
Nestes últimos anos da
década acompanhou os estertores das antes tradicionais festas natalinas, com
suas barracas e quermesses, substituídas pouco a pouco pelo jogo e bebida
simplesmente e nenhuma espécie da filantropia que as norteara em anos
anteriores, alimentando de recursos financeiros a Associação das Senhoras de
Caridade, da Igreja Católica e o Clube da Fraternidade, da Loja Maçônica local.
Já falava para o mundo
via Embratel e a comunidade começava a aprofundar o “fechar-se” em casa diante
da televisão, vivendo muito mais a cultura e hábitos das gentes do Sudeste.
E assistiu a expansão
física do perímetro urbano com a implantação do gigantesco Loteamento Cabana da
Ponte, que trouxe na esteira a URBIS e a consolidação do Bairro Aparecida,
nascido pelo olhar de José Menezes Lima, antes que descambasse para empreender
em Morro do Chapéu.
De singular lembrança para
o final da década a mobilização do magistério estadual no ano de 1979,
participando ativamente da primeira greve ainda no regime militar, quando
assumia o Governo da Bahia Antônio Carlos Magalhães, abrindo o caminho para o
surgimento de lideranças que vieram a se consolidar a partir dos anos 80.
CONCLUSÃO (I)
Passadas as Bodas de
Ouro, como se vê, muito aconteceu. Inclusive a perda de seus três Deputados
(dois, tragicamente) e nem mesmo mais dispõe de Eujácio Filho em nível de
Assembléia ou Câmara Federal. Afinal, meio século não é para qualquer um. Por
que diferente para Itororó?
Do cacau e da
pecuária, como principal atividade econômica, viu-se despertada para a
indústria, desde os tempos d’A Sergipana, Realta, Alimba, das saboarias. Chegou
a ser centro de referência nacional e internacional com a Cabana da Ponte e sua
Central de Inseminação, utopia de Sinval Palmeira e hoje se satisfaz com a
Azaléia e a carne-de-sol.
Acompanhou eufórica os
primeiros atores da terra (nascidos
ou por aqui passados), de Leandro, nos 60, a Eva Lima, Gideon Rosa, Sérgio Ramos, que
enveredavam pelo teatro, cinema e televisão.
Viu seus craques do
futebol descobrirem o País: de Suíres, padeiro de Buarque, e Wesley a Adilson
de Rodão, de Gonzaga a Esdras, de Jorge Campos a Pierre. Apenas alguns dos que
registraram nos anais do Esporte que também foi de Dema, Mide, Geraldo, Pedrão,
Tonho Grampão, Teco, Nozinho Calixto, Aderbal Gonçalves, Dé de Dodô, Adilson de
Bileu, Dalton de Oscar Brasil.
Das festas religiosas
às profanas, desde a do Padroeiro Santo Antônio ao “Caruru dos Cardoso”,
reisados e paus-de-fita. Passeou pelos
reveillons e carnavais tradicionais do Clube Social de Itororó até descobrir os
bailes com Figueiredo no Clube de Campo do Gameleira.
De D. Rubenita de
Olindo a Ednalva Aprígio soube manter o edificar instituições para servir o
próximo.
Vê “Mestre” Osvaldo
sustentando o idealismo de formar novos músicos, ainda que desconhecido das autoridades, assim como acompanhou extasiado de
contrição Valdecíria viver a Verônica na procissão das Sextas-Feiras Santas
durante meio século.
CONCLUSÃO (II)
Certo que já não mais
o cinema, os assustados, os programas
de auditório, o jardim da Castro Alves para o namoro, o futebol feminino de
Dalva Mota, os desfiles entusiasmados de civismo no Dia da Pátria, as
marchinhas carnavalescas a partir de novembro, o Salão Azul, o acompanhar o
Miss Brasil pela “O Cruzeiro”, o cuscuz com leite de coco de D. Anésia.
Tampouco as famílias dispõem das sorveterias de Cazuza, Coló, Adalberto, Dominguinhos
e “seu” Morais como programa de domingo.
Os livros deixaram de
significar a janela para o Universo, tornando-se a leitura não mais um prazer,
mas obrigação. A Biblioteca Municipal Ruy Barbosa apenas na memória de uns poucos.
A ausência de
políticas que efetivamente assegurem à sociedade reconhecer-se como unidade de
Humanidade agrava-se por aqui e contribui para que vivamos o saudosismo de que
“antigamente” as coisas eram melhores, aprofundando em nós a convicção de que o
progresso tem nos trazido mais comodidade – certamente – e menos felicidade –
com certeza.
Inexoravelmente
acompanhou o mundo tornar-se aldeia e levar de roldão tudo, substituindo
valores éticos, morais e religiosos pela moeda do desejo vazio-consumista, as instituições
perdendo o controle sobre seus membros, como de nossas serras as matas vão
desaparecendo, matando aos poucos o Colônia. Também se vai todo o construído,
mutado em algo que só descobrimos quando nos fere e nos faz sofrer.
Afinal, já não mais a
entrada da cidade pelo mata-burro divisando com a fazenda dos boi bufa, mas o asfalto cortando seu
perímetro urbano, mostrando aos de fora a pujança de uma gente que acreditou em
um sonho nos liames de 1923, liderada por João Alves de Andrade nutrindo a ambição
do Coronel João Borges da Rocha Neto por glebas nas promissoras Cabeceiras do
Colônia, fim de mundo do município de Itabuna.
Que procura se
reencontrar com uma esperança; iniciar outro cinquentenário como há 50 anos.