Impressões de uma Baiana na Índia

Primeiras impressões I


Nosso primeiro contato com a cidade foi em meados de maio último, quando estivemos aqui para uma familiarização com o novo local de trabalho do marido, visando escolher moradia, visitar escola, etc.

Após uma exaustiva viagem, em classe econômica, saindo de Salvador para São Paulo, de lá para Dubai (num trecho de 15 horas de viagem) e de Dubai para Chennai, depois de aproximadamente 33 horas entre vôos e espera em conexões nos aeroportos, chegamos a essa super-populosa cidade indiana...

Na chegada ao aeroporto, fomos recebidos por um funcionário "cara de réu" da imigração, para contrariar tudo que eu havia lido na internet sobre os indianos serem amigáveis e alegres... a criatura era grosseira, cara fechada, com um sotaque inglês do qual eu nada entendia e, o que era pior, segundo observou meu filho (de onze anos), portava um "bottom" de "carinha feliz"!... Esse cidadão nos manteve no setor quase por 1 hora e meia, entre idas, vindas, dispensas, depois chamava de novo. Quando pensamos que estávamos, finalmente, liberados, vieram outros dois funcionários nos acompanhando para pegar nossas malas, que estavam separadas das dos demais passageiros, e novamente nos escoltaram de volta para verificar passaporte, tirar cópia, etc. Senti-me como se fôssemos uns bandidos, traficantes de drogas, sei lá... levados pelo aeroporto por aquelas duas "sombras". Tudo isso, suponho, porque houve um erro de digitação na emissão do visto, que apresentou uma troca de um "O" por um "zero" ou o contrário, sei lá...  isso sem mencionar que, nesse ínterim, o filho quis ir ao banheiro  eu também  e lá chegando nos deparamos com aquele vaso sanitário de chão, onde se põe os pés (o menino tirou foto e saiu rindo) e novamente outro funcionário veio nos interpelar dizendo que a criança (sexo masculin) era uma menina, por causa do cabelo comprido, e que havia entrado no banheiro dos homens! Aff!...

E aí, a finalização do capítulo "aeroporto - a primeira vez em Chennai", deu-se com a tentativa de localização do motorista do hotel que iríamos ficar hospedados e se comprometeu a nos buscar. O marido saiu procurando no saguão do aeroporto, onde normalmente as pessoas que esperam alguém na chegada ficam com aquela plaquinha com o nome da pessoa esperada... qual nada! O motorista foi localizado do lado de fora do aeroporto onde, após passarmos pelas portas automáticas, demos de cara com aquela baforada quente de 38° C, contrastando com os quase 22° C da parte interna, e com aquela multidão de pessoas que me pareciam todas iguais, muito morenas e com roupas que pareciam sujas, quase todas de cor marrom, esticando os braços e falando muito, separados por uma espécie de gradeamento...! Fiquei meio assustada (risos). 

Mas seguimos o motorista e entramos num carro com o volante no lado direito (aqui é tudo pela direita, por causa da colonização da Inglaterra, eu acho...mão inglesa, etc), para seguir para o hotel pelo trânsito caótico de Chennai: carro, moto, tuk- tuk, mais carros, muito mais motos e gente, gente, gente!... mas isso é para o próximo capítulo.

Até lá!
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Primeiras impressões II


Paisagem urbana e trânsito 

Saindo do aeroporto e pegando o trânsito caótico (mesmo em pleno domingo pela manhã) em direção ao hotel, fui observando, pela janela do carro, a paisagem urbana. Diria que Chennai parece uma São Paulo, pelas características de ser super-populosa, trânsito intenso, etc, mas não exatamente pela tipologia das construções, já que não se caracteriza pela presença de grandes arranha-céus. Chennai parece ser uma cidade mais horizontalizada e com concentração de prédios de altura média, talvez entre 8 a 10 pavimentos, na área mais central, e edifícios muito altos, em construções mais recentes, ao sul da cidade, além de muitos sobrados com 2 ou 3 pavimentos. E muitos viadutos, ruas estreitas, estabelecimentos comerciais, etc. Mas tudo muito misturado. Diferente de Salvador, ou outras cidades brasileiras que conheço, onde, mesmo crescendo de forma desordenada, consegue-se visualizar determinadas áreas de ocupação homogênea, como, por exemplo, favelas e áreas nobres (ainda que, frequentemente, favelas sejam contíguas ou estejam inseridas em áreas nobres).  Como disse, em Chennai, tudo é muito misturado... Você pode visualizar um prédio moderno, com fachada em vidro espelhado e letreiros neon, e ao lado há uma quitanda de fruta caindo aos pedaços, uma biboca, um container de lixo, um poste caindo...pelo menos nos lugares em que passei, a paisagem é assim: um "mix "de Baixa do Fiscal, Comércio e Feira de S. Joaquim, com pinceladas de entorno do Salvador Shopping (risos). 

Quanto ao trânsito, como disse, é caótico, pela quantidades de carros, motos, pessoas e pela quase ausência de sinalização: a regra preponderante é o uso da buzina, o que acrescenta altos níveis de ruído ao caos do trânsito, associado ao fato de que há muitos cruzamentos e ruas estreitas. Mas, para nossa surpresa, o trânsito flui, não engarrafa como em Salvador. Durante nossa permanência de 1 semana nesta viagem, vimos talvez, no máximo, 3 semáforos (e olha que nos deslocamos bastante visitando imóveis, escola, lojas, etc). E foi quando houve algum congestionamento. Mas nada além de 10 ou 15 minutos parado, diferente de Salvador, na Av. Paralela, em pleno horário de pico, onde pode-se ficar entre 1 a 2 horas (ou mais) para se deslocar entre pequenos trechos... 

E é muito louco (o trânsito): os veículos vão passando, "tirando fino", buzinando, fazem conversões impensadas (por exemplo, em uma avenida cujas pistas de mão e contra-mão são separadas por uma estreita mureta de concreto, há algumas aberturas para passagem de pedestres, e os carros retornam de uma para outra pista por essas passagens!...), mas todo mundo se resolve. E não vimos ninguém xingando ninguém (ou, pelo menos, não visualizamos ninguém exaltado ou querendo briga, pois pode ser que eles estejam xingando e a gente não entenda, rsrs).

Comida e costumes 

Então, após receber aquela energia negativa do funcionário da imigração no aeroporto, a baforada quente na saída do aeroporto e vir contemplando, desanimada, a paisagem urbana (risos), chegamos ao hotel. Lá passamos por um sistema de verificação de segurança: inspeção do porta-malas do carro e detector de metais. Isso, aliás, é comum aqui: escolas, shoppings centers, hotéis. Em todos esses lugares vimos esse sistema. Pareceu-nos estranho em um país reconhecidamente pacifista. Mas falaram pra gente depois que isso é decorrente de uns problemas que ocorreram com o Paquistão (acho que foi um ataque terrorista, lá pelos idos de 1990 a 2000).  Voltando, o hotel em que ficamos era confortável, com acomodações modernas e pessoal amistoso. Inclusive, fiquei emocionada ao ser cumprimentada pela primeira vez daquela maneira deles, com as mãos  juntas, encostadas ao peito e abaixando a cabeça... dá uma ideia de humildade...! Mas o inglês é de arrepiar: mesmo meu marido, que já domina o idioma, estava se mordendo pra entender, imagine eu e o filho?!...

Após descansarmos um pouquinho, descemos para almoçar: o hotel dispunha de um buffet de comidas típicas, embora com visual bem moderno, que entendemos ser a única opção de almoço e resolvemos experimentar. Na primeira colherada que tomei de um tipo de sopa, de entrada, só faltei soltar fogo pela boca, como um dragão. Não é que a comida seja apimentada: aqui é pimenta com comida. Tudo tem pimenta. Até o chá. Dizem que até sorvete... só não vi pimenta em suco. O menino comeu arroz branco com ervilha (risos), porque parecia serem os únicos itens sem pimenta. 

Outra coisa: o marido pediu uma cerveja, me parece, e foi informado de que aqui há uma lei que proíbe a comercialização de bebidas alcoólicas a determinada distância de rodovias, hospitais, escolas, etc, o que, praticamente, torna quase impossível achar bebidas alcoólicas (o 'rapaz' se quebrou, rsrs). Outro item difícil de encontrar é carne bovina,  embora aqui não seja proibido seu consumo, mas, como sabemos, neste país a vaca é sagrada.

Mas terminamos achando uma opção de grelhados que não estavam tão apimentados e eram muito gostosos.

Após o almoço, descansamos um pouco e resolvemos dar "um rolé" pelas imediações do hotel, para ver se encontrava uma roupa local para eu usar aqui, tendo em vista os milhares de observações que li na internet sobre vestimentas adequadas para mulheres na Índia. Mas, ao sairmos do hotel, não percorremos 200 metros e voltamos; o cenário foi desanimador: ruas com passeios estreitos, lixo e fezes humanas espalhados no passeio, de forma que as pessoas andam na rua mesmo... e aqueles ônibus coletivos acabados, sem janela, parecendo terem saído de um cenário daqueles filmes do deserto ou  tipo "Mad Max"... sei lá. 

Voltamos pro hotel, para o terraço, de onde avistei a cidade numa visão panorâmica e não gostei do que vi: atmosfera cinza, provavelmente dada a poluição atmosférica pelos veículos e concentração populacional, aquele "calor do cão", abafado, mesmo no cair da tarde, e um fedor de água de esgoto, de uma fonte que havia no hotel (quiçá não fosse da piscina também...). 

Ou seja, o primeiro dia em Chennai foi, para mim, impactante. E desanimador.

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Primeiras impressões III

Nosso terceiro dia em Chennai, quando da visita de "househunting", em maio, para meu alento, foi diferente dos anteriores. Não sei se porque começamos nossa agenda com uma visita à escola onde meu filho iria estudar – que é um ambiente muito agradável  fato é que o restante do dia transcorreu igualmente clima, apesar de eu já haver completado mais de quatro noites quase sem dormir e não estar, evidentemente, no "meu melhor", rsrs. (Habituar-se ao fuso horário não é coisa imediata).

Enfim, como disse, começamos esse dia visitando a escola – que é internacional americana , enorme, possui ótima estrutura e com funcionários muito acolhedores. Tranquilizaram-nos quanto ao desafio de meu filho frequentar a escola ainda sem saber falar inglês,  pois – informaram – a instituição possui estratégias para esse tipo de situação que, aliás, é muito comum, já que conta com estudantes do mundo inteiro, além do que, também nos disseram, havia outros estudantes brasileiros matriculados, inclusive o filho do embaixador. 

Assim, começamos nosso dia num ambiente de temperatura agradável, onde, mesmo na área externa, não fazia tanto calor por conta da extensa arborização, e, nas áreas fechadas, a climatização e o cheirinho de incenso tranquilizavam qualquer brasileiro estressado, rsrs. De lá, seguimos para mais um dia de visitas a imóveis. Aqui, cabem algumas observações que talvez ainda possam ser enquadradas 
como Paisagem urbana.

Desta vez, visitamos muitas casas, e não apartamentos, como no dia anterior, e estas localizadas na direção sul da cidade, e não na área mais central, como anteriormente. Pelo que pude perceber, a área mais central é um pouco mais antiga, mais consolidada, e possui um traçado urbanístico que parece ter sido minimamente planejado, com ruas e avenidas mais largas e arborizadas, e sempre mantendo um padrão construtivo muito bom das edificações, tanto residenciais quanto comerciais, não obstante aquele "mix" de Caminho das Árvores com Feira de S. Joaquim e Baixa do Fiscal a que me referi antes, que está presente em toda a cidade, rss.  

Há algumas exceções de áreas de concentração residencial mais homogênea, como pude observar, por exemplo, em Boat Club e Besant Nagar, onde, inclusive, há verdadeiras mansões, casa enormes, com terrenos enormes, grandes jardins... Mas, de maneira geral, a região central pareceu-me uma área muito conturbada. A agitação, o trânsito intenso e caótico, o barulho... 

O rapaz da empresa que foi disponibilizada para nos auxiliar nessa visita de reconhecimento, aproveitou para nos mostrar, também, alguns pontos típicos da cidade e, como aqui é litoral, ele nos levou, por exemplo, à região da Marina, a praia mais conhecida daqui. Só que a praia de cá nada tem a ver com as nossas aí. Primeiro que aqui não tem nenhum paisagismo, coqueiros, etc. As construções e a rua acabam e começa praia, com aquela areia escura e grossa, que eu já acho feia... e a praia toda cheia de lixo! (rsrs) 

Ou melhor, lixo e várias barraquinhas de papelão, de pedaços de madeira, que o rapaz informou serem de dois tipos: de ambulantes que vendem comidinhas de rua e dos desabrigados de um tsunami que ocorreu aqui há aproximadamente 5 anos... Imaginem?!...  E as barraquinhas vendem essas comidas para os transeuntes que vão à praia à noite, pois durante o dia não há frequência e, quando há, as pessoas vão e tomam banho cheias de roupa. E detalhe: se estamos numa praia, sem nenhuma infra-estrutura, com desabrigados do tsunami que devem realizar todas as suas necessidades por ali mesmo, como deverá ser a qualidade dos alimentos ali preparados? Fiquei com essa dúvida... rsrs. 

Por outro lado, os apartamentos que visitamos nessa região, no dia anterior, estavam fechados e, quando entrávamos, a sensação era de estar num forno, de forma que meu juízo cozinhava que eu nem conseguia raciocinar para me visualizar morando ali... misericórdia!... Enfim, não foi exatamente um dia aprazível, rsrs. Mas, nesse terceiro dia, como disse, fomos em direção à área sul da cidade, que me pareceu ser uma região de expansão, para onde a cidade cresceu mais e vem crescendo em torno de uma rodovia que atravessa a cidade, chamada East Coast Road. Pela informação do motorista, essa rodovia atravessa todo o estado de Tamil Nadul, onde está localizada Chennai, e, só aqui na cidade, possui um trecho de 60Km!... Então, a ECR é uma rodovia super-agitada e lotada de estabelecimentos comerciais, com aquela mistura, mas onde a maioria é naquele padrão de espelunca. Ou seja, o acesso às regiões de casas "não é gatinho, não", rsrs. 

Mas, entrando nas áreas residenciais, onde existem muitos condomínios de casas, lembrei de Lauro de Freitas, naquela faixa entre a Estrada do Côco e o litoral,  com seus condomínios de casas próximos ao mar, como, por exemplo, em Buraquinho. E, penso que os corretores perceberam o sufoco do dia anterior (a gente "pedindo pra morrer" com a "sauna" dentro das casas) que, dessa vez, em todos os imóveis que visitamos, o ar condicionado estava ligado...! Ou seja, entrávamos no paraíso... rsrs. E aí, sim, deu para raciocinar como seria morar naqueles lugares, tirar dúvidas quanto abastecimento de água, suprimento de energia elétrica, internet, compras, tudo, rsrs... E a praia, apesar de continuar sem coqueiros e com a areia grossa, pelo menos não tinha lixo. 

Instalações e moradia

No dia seguinte, revisitamos os imóveis que mais havíamos gostado e optamos por morar na região da ECR, em um condomínio de casas já experimentado por outros expatriados e, pelo menos, em princípio, livre de surpresas. Esse foi o critério de seleção do meu esposo, sempre muito objetivo, pois, na verdade, por mim, teríamos escolhidos duas outras casas, lindas, estilo "mansão", pelas quais "fiquei doida", rsrs. Mas eram casas independentes, onde teríamos que nos resolver com relação a tudo, inclusive segurança. 

Aqui, cabe um parênteses. Apesar de eu ter lido muita coisa sobre quase não haver violência ou criminalidade no país, pelo menos da forma como estamos acostumados a ver no Brasil, fomos avisados de que determinadas condutas não deixam de ser arriscadas, principalmente para mulheres desacompanhadas, como, por exemplo, andar na praia no final da tarde. Outra coisa que meu esposo pontuou é que, como eu iria ficar a maior parte do tempo em casa e sozinha, com o agravante de não falar bem inglês, muito menos o inglês com sotaque indiano, rss, seria melhor que escolhêssemos um local onde não houvesse necessidade de resolver ou providenciar coisas no dia a dia e, de preferência, com bom acesso à internet, para facilitar contato com a família, amigos, etc.  Assim, optamos por uma casa em um condomínio em que moram outros estrangeiros; o condomínio fica próximo a supermercados, restaurantes,  etc., possui suprimento de água, e gerador (pois aqui as quedas de energia são frequentes) e as casas têm painel solar  para complementação do suprimento de energia (achei isso interessante...). 

Sobre as casas, de maneira geral, a característica principal é de que são enormes. Pelo menos os imóveis que visitamos, todos bem amplos, variando de 250m² a 450. Depois, através de uma conhecida indiana, vimos entender que isso decorre de um aspecto cultural: na Índia, após se casar, o filho leva para sua nova casa a família pregressa. Ou seja, a esposa recebe de presente esse pacote completo: marido, sogra, sogro e cunhado(a)s, rsrs... Por isso, as casas são grandes e têm, normalmente, mais quartos do que costumamos ter no Brasil. 

Outra coisa que nos chamou atenção, é que os imóveis tem aparelhos de ar condicionado em praticamente todos os cômodos da casa, ou dispõem de ar condicionado central. Exceção só para os banheiros (que têm ventilador) e, em alguns casos, cozinhas. Estas, inclusive, comum serem encontradas em número de duas: uma para os donos e outra para o "staff". Ou seja, vimos que a separação de classes sociais existe, de fato, aqui. 

Outra coisa que observamos em quase todos os imóveis visitados é o "prayer", um oratório, um cômodo só para realização de orações, mostrando também que o fator religioso é forte. A presença do oratório, inclusive separado para homem e para mulher, também é comum nos aeroportos, coisa que nunca vi no Brasil.

Uma outra peculiaridade que me chamou atenção foi o fato de que, aqui, muitas casas dispõem de lavadora e de secadora de roupas. Achei estranho, num país de clima tropical, com sol e vento praticamente durante todo o ano, mas depois supus que, como os ambientes ficam sempre fechados e com ar condicionado por causa do calor, as pessoas não têm costume de estender roupas em varal (mas, chegando aqui, providenciei logo o meu varal, rsrs).

Por hoje, fico por aqui. 
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Primeiras impressões IV

Dando sequência às observações partimos para outras 'descobertas', estágio último dessa etapa

Alimentação e costumes

Nosso quarto dia em Chennai foi dedicado a percorrer alguns locais, identificados pelo preposto que nos auxiliou, como preferidos pelos expatriados na sua vida prática, ou seja, pelos estrangeiros que moram por períodos determinados na cidade ou ficam, definitivamente. Foi uma espécie de "citytour" de supermercados, lojas, hospitais, etc. 

Nessa oportunidade, no supermercado, por exemplo, pude observar muitos artigos e produtos similares aos nossos, inclusive algumas marcas, principalmente de produtos de higiene e limpeza. Quanto aos alimentos frescos, há muitos tipos de frutas conhecidas nossas, como banana, manga, melancia, melão, maçã, uva, etc. até porque, acredito, trata-se de um país tropical, como o nosso, cujo clima favorece algumas culturas. 

A mesma observação vale para os grãos, embora haja aqui uma variedade maior que a encontrada no Brasil, pelo menos nos estabelecimentos mais conhecidos daí. Explico: vi aqui um monte de tipo de feijão, branco, preto, amarelado, até vermelho... vi também uma banana da casca vermelha, que eu não conhecia. 

E os condimentos... aff! sem comentários, rsrs. Incontáveis!... são muitos temperos, em pó, em grãos... mas temperos frescos vi pouco, em relação ao que encontramos aí, como, por exemplo, coentro (que eu adoro!) e que, quando se vai ao supermercado, tem aos montes.  Vale ressaltar que, aqui, mesmo as grandes redes de abastecimento não têm lojas grandes, como temos aí os supermercados das redes Extra, GBarbosa, Bompreço, etc. São lojas menores, normalmente bem apertadas, e onde não se acha de tudo em um só lugar. Gêneros não perecíveis são melhores de ser adquiridos em um lugar, frango e frutos do mar em outros, frutas e verduras noutro e por aí vai. Mas se acha de tudo. Carne de boi, embora aqui não seja exatamente proibido o consumo, é bem mais difícil de achar. Assim como bebidas alcóolicas. Meu esposo teve que se contentar com as garrafinhas de whisky que trouxe do avião, rsrs.... Parece que, em toda a cidade, há apenas uns três ou quatro lugares onde é possível comprar bebidas alcoólicas; mesmo em restaurantes e hotéis não é comum a venda desse gênero de bebida. Eu não bebo nada alcóolico, e resolvi me aventurar num chá, o thai, chá típico indiano, que é, para não fugir à regra... apimentado! Mas é gostoso. 

Na sequência, nosso quinto e último dia em Chennai foi tranquilo, pois o compromisso era apenas do meu esposo, com o treinamento cultural, e eu e o filhote ficamos descansando no hotel. Nesse dia, saímos para almoçar num restaurante típico indiano, como parte das atividades do treinamento cultural. Como não participei desse treinamento, pouco sei dizer sobre as orientações que foram passadas mas, segundo meu esposo comentou, basicamente foram abordados aspectos sobre a religião, os costumes a maneira de ser dos indianos, inclusive nos ambientes corporativos, etc. Pelo que entendi, após saber sobre os "trocentos" deuses indianos, você só grava o nome de dois: Shiva e Ganesh (aquele com as feições de elefante), rsrs. 

No almoço, fomos a um ótimo restaurante de um outro hotel, com uma bela decoração típica e um porteiro bigodudo vestido a caráter, com turbante e tudo e com o qual não hesitamos em pedir para tirar fotos. Nossa anfitriã, que ministrou o treinamento cultural, pediu vários pratos, todos muito gostosos e... apimentados! Ela, indiana típica, consumiu comida vegetariana e nós pedimos, adicionalmente, um frango, que estava pimenta pura, rsrs. O que mais gostei foi a sobremesa que pedi: pudim de côco, delicioso, suave e com uma linda apresentação (em casca de côco e uma flor que não sei o nome...)! Aliás, côco e leite de côco são ingredientes extensivamente utilizados aqui, junto, é claro, com o açafrão que entra na composição do curry. 

Gostaria de salientar que, quando falo que os pratos são apimentados, nem de longe lembra as nossas comidas apimentadas, viu? rsrs... É que nós, como bons baianos, gostamos de pimenta, mas tipo assim, acarajé com pimenta, um molhinho lambão no cozido (humm... adoro!) e assim por diante. Aqui não. A melhor definição de comida indiana que vi, e aí peço desculpas pela minha absoluta ignorância da gastronomia indiana, dizia que, basicamente, a comida indiana é você ter um prato de arroz branco ou pães, que em nada se parecem com o nosso "pão cacetinho" (estão muito mais para crepes ou burritos) e um monte de potinho cheio de molho muito, muito, muito apimentado...rsrs. Todos os pratos têm pimenta. Inclusive, sempre que eu ouvia falar em comida vegetariana, só me remetia àquele monte de grãos e vegetais, em sua maioria, frescos, acompanhados, quando muito, de um molhozinho para "tapear", rsrs. Aqui, se você vir "pure veg", saia correndo (risos), pois é um monte de comida cozida, quase tudo de uma cor só, que, se você comer, fica tal qual dragão, cuspindo fogo pela boca e dando o seu reino por um copo de água, rsrs.

Bem, com esse dia tranquilo, encerramos nossa viagem de reconhecimento a Chennai, animados com a perspectiva da volta para morar, durante três anos, nessa cidade, para nós, cheia de contrastes e desafios , mas com uma gente simpática e acolhedora...


Até a próxima!

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Nélia Lima Machado, Engenheira Sanitarista e Professora universitária.

Em viagem à Índia, com o marido e o filho, onde ficará por três anos, a baiana  a pedido nosso  registrará suas impressões, que serão publicadas semanalmente nesta janela do blog.
Sua base é Chennai, cidade de 8 milhões de habitantes, localizada no estado de Tamil Nadu, no Sudeste do país.                                

   


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