ABC do Cabôco

À guisa de prólogo

Ao pretender escrever sobre o universo simbólico ABC da Noite e Beco do Fuxico, sob o contexto de Cabôco, tínhamos que o espinho desta cantoria regada à batida se nos afigurava singelo.
De logo se mostrou desafiante, quando percebido que a alma Cabôca não se fazia isolada à atividade de comerciante: repercutia nos que a buscavam e lhes dava vida, que a ela retornavam, constituindo um só e particular mundo, como o de matriarca que acolhesse, maternal, a todos que gerou.
Demais disso, Cabôco traduzia algo não-comum nos dias que vivemos: generosidade, amabilidade, urbanidade.
Findamos por concluir que a busca dos destinatários dessas virtudes seria o azeite para a consecução do projeto.
Razão por que, pelas particularidades, não se faz escrito de próprio punho, mas pródigo e generoso à custa alheia: seja-o na pessoa de Alencar Pereira da Silveira, o Cabôco Alencar, seja-o nos que consubstanciam dezenas de citados nesta obra – omitidos algumas centenas ou milhares – ou dos que registram em suas agendas e memórias (como Sérgio Ribeiro) parte da observação, sem os quais não faria sentido editá-la.
Desta forma, não deixa de nela existir certa cortesia com chapéu alheio, mas somente assim possível imortalizar no texto singularidades, geografias, histórias e nomes que existem em simbiose com o retratado espaço físico e o inusitado personagem que os congrega – essência da obra – e não há em relação a eles qualquer abstração ao que porventura as envolva, mas à circunstância de presentes ao vivo no imaginário do escriba.
Para Goethe, “A clareza é a cortesia do gênio”. Nesta proposta, a clareza e a genialidade residem na cortesia dos fatos e personagens registrados, que permitem alcançar o ABC da Noite e seu xamã (o gênio que nos fez discípulos) na esteira do Beco do Fuxico.
Esperamos haver alcançado, pelo menos, a nitidez das águas cristalinas no timbre da fala alencarina, que nos remete, de logo, a vislumbrar desdobramentos, nutridos com novos “causos” e “contados” dados a todos os que nos alimentamos do prazer cotidiano de ouvi-la.

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