domingo, 13 de agosto de 2017

Há quem aplauda

Nosso blog abre este domingo com detalhes alheios: o texto de Joan Edesson no Blog do Renato (transcrito na íntegra, para que registrado aqui fique) e um vídeo de matéria jornalística do SBT, mostrando os caninos do golpe de 1964.

As falácias de hoje, as mesmas; os métodos distintos entre um instante e outro. Mas a fome e a miséria – que se avizinham – serão as mesmas.

A diferença – para pior agora – reside no fato de que a entrega do país e de suas riquezas se faz de forma ainda mais aviltante pelo interino tornado presidente.

E há quem aplauda!

 A fome voltou

Conheço bem a fome. Quando criança, brincávamos de esconde-esconde com ela, que não raras vezes nos encontrava. Nunca passou, confesso, de fomezinha, minúscula. Há gradações na fome, na miséria, na pobreza, que as estatísticas nem sempre são conta. 
Entre a pobreza da minha infância, nós éramos pobres, apenas pobres, sem adjetivos ou advérbios. Havia, numa escala abaixo, os muito pobres e os miseráveis, aqueles para cuja sobrevivência o nada já era muita coisa.
Não me orgulho disso. Não há motivo algum para se orgulhar da pobreza, da miséria, da fome. Faço o registro porque a fome voltou, e eu a reconheço onde a vejo, eu tenho gravado a fogo na minha memória a sua cara feia, eu tenho tatuado no peito a dor que ela causa, eu sei dela por todos os meus poros, e eu não a esqueço, não consegui, não conseguirei jamais.
Tampouco tenho vergonha disso. Já tive, muita, muita vergonha de ser pobre. É uma perversidade sem tamanho, e em criança me ensinaram que eu era menos que os outros, que os outros eram superiores, e que portanto eu devia me envergonhar da minha condição. Não mais, nunca mais, prometi um dia a mim mesmo. Não me envergonharia mais disso. Tampouco teria orgulho. É um registro apenas, uma condição de certa época da minha vida.
Conheço a fome. A minha, fome pequena, e a de outros, fome enorme, dentes arreganhados, a carantonha a assustar o mais corajoso dos viventes. Naquele ciclo de seca do início da década de 1980, entre 1980 e 1983, foi quando a vi mais de perto. Naquele então ela já não me alcançava mais, mas atingia com força muita gente próxima a mim. Há imagens daquele tempo que estão de tal forma gravadas em minha memória que é como se eu as visse agora, nesse exato momento.
Não esqueço do homem em uma bicicleta com o caixãozinho azul de anjo parado na porta da igreja, colocando aquele minúsculo caixão nos braços e esperando que as portas se abrissem. O padre estava viajando, mas ele só queria que o caixãozinho entrasse na igreja, que alguém murmurasse uma prece, antes que ele amarrasse novamente o pequeno esquife na garupa da bicicleta e fosse, sozinho com sua dor, enterrar o anjinho.
Não posso esquecer os três irmãos, tão pequeninos, mortos num único dia. Os caixõezinhos enfileirados, três anjinhos mortos de fome. A mãe e o pai não choravam mais, não tinham mais pranto. O rosto era uma máscara apenas, indiferença e resignação. Àqueles eu acompanhei até a cova, pois a família, tão desfalcada, não era suficiente para carregar os três até o cemitério. Aqueles me doem até hoje, até hoje me fazem chorar quando sou, como agora, obrigado a esta lembrança.
Naqueles anos eu perdi a conta de quantos anjinhos, em seus caixões azuis, vi desfilar nas minhas retinas. Eu trabalhava ao lado da igreja, numa cidadezinha afogada em seca, fome, morte e desolação, perdida no meio da geografia dos Inhamuns, nos sertões do Ceará.
Há outras imagens, como a do homem que vi, em 1983, batendo com a cabeça no portão de ferro de um armazém de milho. Eu o conhecia, era meu amigo. Como esquecer aquele desespero, aquele homem que de tão faminto acreditava ser possível derrubar um portão de ferro batendo nele com a cabeça? O portão caiu, outras cabeças e outras mãos e outros braços se juntaram a ele, e eu aprendi ali que os castelos podem ser derrubados.
Não posso esquecer do sargento da polícia batendo no velhinho que juntava do chão os grãos de feijão, abandonados pelo saque, um dentre tantos que presenciei, e levando-o preso mesmo ante o protesto, ainda tímido e medroso, de tantos que pediam para não prenderem o homem.
Acreditei que não precisava mais recordar essas coisas. Acreditei que elas dormiam profundamente no fundo de mim. Mas agora essas cenas retornaram. A fome voltou. Já anda livremente pelas ruas, de mãos dadas com a outra anciã perversa, a morte. As duas buscam alimento farto novamente pelos sertões, assolados por quase uma década de seca. Buscam e encontram.
O golpe trouxe de volta a fome. Ela está aí, esmurrando a porta. Eu a conheço, eu a reconheço em qualquer lugar, e mesmo que por ora esteja a salvo, ela já atinge muita gente próxima a mim.
                   

Discurso não resolve
Parte da esquerda – a do progressismo nacionalista – choraminga as desgraças por que passamos. Em 12 anos (porque nos dois restantes foi cuidar do golpe) não conseguiu por em prática a lição básica: comunicação. E aliou-se à direita para fazê-lo.

Raduan Nassar, em entrevista ao Le Monde Diplomatique, espreme o tumor para não esquecermos de que o temos e não o tratamos: 

“Faltou um trabalho de base da esquerda no Brasil. E a participação popular ficou à mercê da mídia de direita, especialmente dos telejornais diários”.

O custo resultante do deslize é incalculável. Só o discurso não resolverá.

Falta um mea culpa
A presidente Dilma Rousseff, entrevistada pela BBC, lamenta tudo que aí está.

Em relação ao que expressa tem toda razão. 

Falta-lhe explicar porque manteve Mercadante e José Eduardo Cardozo. 

Só resta o choro baixinho 
Sofrido, por entre soluços abafados no travesseiro. Como de criança que apanhou por culpa que não tinha. Assim como de Mateus Nachtergaele para um país que chegamos a divisar.

Para pensar

“Se você não for cuidadoso, os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” (MALCOM X, ativista norteamericano - 1925-1965). 

“Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma” (JOSEPH PULITZER, jornalista norteamericano - 1847-1911).

“A imprensa pode causar mais danos que a bomba atômica. E deixar cicatrizes no cérebro” (NOAM CHOMSKY, linguista, filósofo, cientista cognitivo, comentarista e ativista – 1928-)

Venezuela
Levando em conta as considerações acima sugerimos a avaliação do texto de Marco Teruggi, original no La Tabla, com tradução publicada no GGN. Bem como a leitura de artigo de Saturnino Braga.

Pacascas
Com preço da gasolina nas alturas fica difícil compra-la para fins outros que não o fazer rodar carros. O soteropolitano – para não perder a oportunidade – inventou o coquetel molotovO para agraciar João Dória.

A ironia popular diz que a ovada deve ser aplaudida por duas razões: demonstra que na Bahia o Dóreo viu a política às claras e que recebeu o título por ser da gema.

Não temos como não reconhecer que o moço foi ovacionado.


TRT-5
Denúncias pipocaram contra a iniciativa do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (Bahia) de custear às suas expensas (do povo) assistência de personal training para seus integrantes.


Dispensamo-nos comentar e disponibilizamos a Nota do próprio TRT-5 para justificar a despesa.

"TRT-5 esclarece:

O Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT5-BA) está adotando medidas de sustentabilidade, voltadas para a economia de recursos públicos, ao incluir práticas de exercícios físicos destinadas ao seu seu quadro de pessoal, em virtude do número de afastamentos caudados por doenças como depressão, estresse, doenças cardiovasculares e diabates. O projeto segue as diretrizes das Resoluções CSJT 103/2012 e CNJ Nº 207 de 15/10/2015, alinhada ao Planejamento Estratégico do TRT5, sendo um projeto que integra o Macrodesafio: Promover a melhoria da gestão de pessoas e da qualidade de vida. 

Também, em atenção à Resolução CSJT 103/12 e o Guia de Contratações Sustentáveis da Justiça do Trabalho, o objeto deste projeto, integra uma das seis áreas do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis, qual seja: “qualidade de vida no ambiente de trabalho”. No âmbito do TRT5, o Plano de Logística Sustentável, a través da Resolução Administrativa TRT05/2016. 

A pretensa licitação destina-se à contratação de empresa com experiência e qualificação profissional comprovadas, para assessorar esportivamente o TRT5, em modelo de atividades físicas voltadas na definição de princípios, diretrizes, estratégias e parâmetros para a implementação de programas, projetos e ações institucionais à promoção da melhoria da condição física e mental dos participantes, a qualidade de vida dos envolvidos, a promoção da saúde e prevenção de doenças, a redução do sedentarismo, com a abrangência no condicionamento físico, envolvendo atividades esportivas de caminhadas, corridas assim como preparar servidores com aptidões específicas na representação do TRT5 junto as Olimpíadas da Justiça do Trabalho, evento anual que conta com forte compromisso do Conselho Superior da Justiça do Trabalho, Conselho Nacional de Justiça e demais Órgãos integrantes do Judiciário, com sucesso implementado junto ao TRT da 19ª Região. 

Secom TRT5 
Secretaria de Comunicação Social"
Sorteios(?)
Não nos dispensamos de ler Luiz Nassif como um dos contrapontos ao establishment midiático quase hegemônico. Não temos arrependimento. Triste ficamos que outros não o façam. 

Sempre que entendemos interessante disponibilizamos matérias suas. Como essa, que analisa os ‘suspeitos’ sorteios de temas no STF que desaguam na carteira de Gilmar Mendes.

Há quem afirme que não existe sistema de sorteio no STF, tudo seria manual. Um desafio para a Presidência exibir o sistema.

Também possível que seja, “mais difícil de investigar e mais fácil de programar: se o sistema de processos usar webservices, basta alguém ter uma chave reconhecida pelo sistema de processo eletrônico para simular o sistema oficial e definir o relator que quiser.” –  como registra Leandro Arandt, no GGN.

Com a bola, para o chute fatal, a presidente do STF, Ministra Cármem Lúcia. Para – existindo ou não o sistema – iniciar um processo de sorteio ao vivo e em cores.

Para não perder o mote
Diz comentário à matéria acima, assinada por Giorgeno

"O STF não vai liberar dado de nada, porque os sistemas são feitos para serem manobrados, por exigência da realidade.

Haver caído tanta coisa para Gilmar Mendes é uma improbabilidade estatística mas não são os presidentes que devem ser pressionados, quem deve fazer isto são os chefes do setor de distribuição... servidores comuns raramente fazem isto, sob pena de perderem seus carguinhos de peão."



Nenhum comentário:

Postar um comentário