domingo, 30 de julho de 2017

À deriva

O país não encontra um rumo. Não é difícil entender. Afinal, o que ofertaram por estrada nunca apresentou um fim satisfatório em nenhuma parte do planeta onde aplicado.

Assim passamos a conviver com políticas (públicas?) incompatíveis com as necessidades do Estado Nacional. A simbiose entre a ideologia dominante (a do mercado) e a política de Estado posta em prática negam ao destinatário (a sociedade) a mínima possibilidade de encontrar o destino tão alardeado quando tornou-se necessário violar as instituições democráticas que alimentam um Estado de Direito para assegurar o retorno das políticas patrimonialistas de clássico conhecimento na história desta terra brasilis.

E por tal viés não sabemos em que nos agarrar. Coisas acontecem sem o crivo do bom senso e do equilíbrio. Enquanto investimentos públicos vão-se pelo ralo para assegurar o rentismo e a especulação financeira estamentos da sociedade buscam aprofundar privilégios.

Não bastasse a entrega do patrimônio público a uma meia dúzia de escolhidos vê-se o futuro à deriva. Como náufrago em tormenta sem uma tábua onde segurar.

No fundo estamos entregues a um fenômeno que se afasta do puro surrealismo para ingressar no cadinho de uma elaboração regrada a ocultismo.

As raízes visíveis que expressa Angeli para a violência, em charge, diz o que tratados especulam. O invisível pode fazer parte do “programa secreto” de James McGill Buchanan, como registra George Monbiot no The Guardian, veiculado em tradução no Outras Palavras.

A postura totalitária (envolvendo as instituições de Poder) presente nesse instante brasileiro expõe tentáculos daquele projeto. Basta vez os resultados obtidos até agora.

Teoria da conspiração  dirão alguns. O tempo está atropelando e nos lançando à deriva, sem que o percebamos. Tampouco seus fundamentos e razões.

pac
Com letra maiúscula o projeto de investimentos públicos; com minúscula o projeto que alimenta a crise. 

Um, o Programa de Aceleração do Crescimento (de antes); outro, o programa de aceleração... da crise (de agora). 

Rui Costa e o PAC baiano
O Governo da Bahia faz o que o PT nacional não fez quando no exercício do poder. Interprete-o o leitor a partir do fato de O Correio (da Bahia), jornal de ACM para sustentar o carlismo (para onde jorrava dinheiro público), andar chiando e haver ingressado com pedido junto ao Ministério Público contra a Secretaria de Comunicação Social do Governo do Estado alegando sofrer discriminação na distribuição de recursos.

A defesa de Sua Excelência residirá no fato de que o dinheiro público deve ser aplicado em benefício do povo, como o faz em estradas, hospitais, saneamento, transporte, cultura etc.

Enquanto o país patina a Bahia vai mostrando a cara de um governo que tem políticas públicas em consonância com a realidade de sua população.

FIES
Um jovem, cursando Fisioterapia em faculdade particular de Itabuna, pretende Medicina na Santo Agostinho. Não tem como pagar o curso. Perguntou-nos por uma solução, acreditando no FIES. Dissemos, simplesmente, que ele esteja preparado para esperar no fim da fila, porque a avaliação para ingresso em escola particular passa pelo cadastro financeiro, ou seja, pela certeza de adimplemento.

Entendeu.

E nem chegamos a dizer-lhe que 2/3 dos recursos do FIES para os que ganham até três salários mínimos foram suprimidos pelo governo do interino tornado presidente e que os de até cinco de renda passam a ser analisados pelo sistema financeiro privado.

O detalhe
Dia desses reencontramos ex-aluno, hoje juiz federal. Gastamos prosa por mais de duas horas. Em determinado instante – nós, dos que reagimos ao aparato eletroeletrônico que alimenta a prestação jurisdicional contemporânea em detrimento da efetiva realização da Justiça – dissemos a ele: Fulano, prepare-se para ceder espaço a um robot. Sentença será obtida com a inserção de uma moedinha e dados, que serão processados pela ‘inteligência artificial’. 

Ele riu e completou: “Faltou um detalhe, professor: caso não seja aceita a pretensão a moedinha não será devolvida.” 

Época I
Transcrição de Luiz Nassif de matéria da revista Época, de 2006:

“No caso de José Serra, há extratos fornecidos pelo banco americano JP Morgan Chase. O nome do ex-ministro, que segundo relatório dos policiais pode ser um homônimo, surge em uma ordem de pagamento internacional de US$ 15.688. O dinheiro teria saído de uma conta denominada “Tucano” e sido transferido para a conta 1050140210, da empresa Rabagi Limited, no Helm Bank de Miami, nos EUA. Serra é apontado como o remetente dos recursos. Isto seria uma indicação de que ele teria poderes para movimentar diretamente a conta Tucano. Entre 1996 e 2000, essa conta recebeu US$ 176,8 milhões, segundo a PF”.

As tramamocas do rapaz são por demais sabidas e consabidas. Mas como integra um grupo especial permanece livre, leve e solto.

Época II
Reportagem especial da dita cuja (a 996, deste julho), em chamada de capa, diz ter tido “acesso a gravações inéditas de julgamentos secretos do Superior Tribunal Militar, entre 1975 e 1978. Os áudios revelam como os ministros ignoravam a lei – e denúncias de tortura – para condenar réus de acordo com os interesses do regime”.

Não será ‘mera’ coincidência com certa Vara Federal de Curitiba quando julga ‘inimigos’, onde não falta nem a tortura, substituído o pau-de-arara pela prisão por tempo indeterminado (até que o indigitado delate o que a tchurma quer ouvir).

Mas da atualidade a revista passa ao largo. E mesmo aplaude. 

Como diziam os romanos, com Cícero: O tempora, o mores (Oh! tempos, oh! costumes!).

As pernas curtas da mentira
Lula está condenado. Assim sentenciou Moro. Por recursos obtidos ilicitamente em decorrência de contratos da OAS com a Petrobras.

No entanto, quando questionado – através de embargos de declaração – sobre os liames entre uma coisa e outra – a relação casual, já que não admite o ato de ofício – afirma que

"Este Juízo jamais afirmou, na sentença ou em lugar algum, que os valores obtidos pela Construtora OAS nos contratos com a Petrobrás foram utilizados para pagamento da vantagem indevida para o ex-Presidente. Aliás, já no curso do processo, este Juízo, ao indeferir desnecessárias perícias requeridas pela Defesa para rastrear a origem dos recursos, já havia deixado claro que não havia essa correlação (itens 198-199). Nem a corrupção, nem a lavagem, tendo por crime antecedente a corrupção, exigem ou exigiriam que os valores pagos ou ocultados fossem originários especificamente dos contratos da Petrobrás"

Não fora o cruciante aspecto de denunciar-se incompetente para julgar Lula – afinal, cuida ele da Petrobras – é de ser perguntado: condenou por quê?

De espantar
No Brasil, depois de tudo de irregular cometido por Moro, o que espanta, como diz Xavier no Conversa Afiada é "... o silêncio escandaloso de órgãos como o Conselho Nacional de Justiça e o Supremo Tribunal Federal explicam por que o Judiciário nacional afunda sem parar na falta de credibilidade geral."

Sadismo
Muitas as não-virtudes – para ficarmos no terreno delas (as virtudes) – do juiz Sérgio Moro. Vão-se escancarando a cada derrota moral que lhe vai chegando. 

Sua perseguição a Lula beira a paranoia.

Mas, ao vermos deferir – depois da sentença – um pedido feito no curso do processo – temos que Moro é, definitivamente, um sádico.

Ou um chicaneiro, como o diz o ex-ministro Eugênio Aragão no RBA.

Ninguém segura
A desmoralização vai sendo antecipada. Sinaliza-o Flavio Aguiar no RBA.

Algoritmos
Muitos estranharam a dimensão quantitativa da sentença de Moro contra Lula. 

Tudo agora está escancarado por José Francisco Siqueira leite, veiculado no Conversa Afiada

Moro, demonstra a análise, trabalha mecanicamente, montando o quebra-cabeça que imagina, reunindo as peças de forma a alcançar o resultado.


A sentença na literatura
Certamente não será fonte literária na expressão técnica, mas se tornará buscada por aqueles que querem entender a condenação de Lula por Sérgio Moro em meio a tantas acusações de perseguição político-judicial.

A professora de Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio de Janeiro Carol Proner, organizou coletânea de artigos que analisam a sentença do caso triplex, com lançamento previsto para 11 de agosto: "Comentários a uma sentença anunciada: o caso Lula." Que fala do trabalho aqui


Por sua vez, Leonardo Yarochewsky, Mestre e Doutor em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, leva ao leitor mais um registro sobre os abusos em relação a Lula: "República de Curitiba – Por que Lula?". 

Enquanto a plebe pasta...
PDV para servidor público, corte no FIES para os que ganham até três mínimos, redução dos investimentos no PAC, extinção do Ciência Sem Fronteiras, Menos para o Minha Casa, Minha Vida e para o Bolsa Família etc. etc. etc. 

...casta continua casta
Uma merreca a pretensão salarial dos Procuradores da República: 16,38%.

Diante de tanto altruísmo não podemos descartar a ironia de Fernando Brito, no Tijolaço: “São uns sacerdotes franciscanos...”.

Conspiração(?)
Temos registrado nesse espaço há meses que não acreditamos na ocorrência de eleições em 2018. 

O tema se torna assunto nacional. O alerta Altamiro Borges, a partir  de matéria do jornal Valor: "Eleições podem impor retrocesso às reformas".

Bingo!

Onde houver...
Só há corrupção se houver dinheiro. Não houvesse dinheiro logo não haveria corrupção. O aqui posto alimenta uma conclusão serena do papa Francisco, de que não conseguiremos extirpar a corrupção de uma sociedade que tem no dinheiro seu maior valor.

Bingo!


domingo, 16 de julho de 2017

Contratualismo versus patrimonialismo e a ponta do iceberg

Iceberg
Bingo! Perfeito Wadih Damous no Conversa Afiada: “Com todos os avanços que se conhece, se há um erro na era petista que merece ser sublinhado foi a crença vã de que a burguesia brasileira é dotada de um mínimo de convicção democrática e republicana e que parte dela, situada no centro político, fosse capaz de um olhar sensível para as transformações sociais em curso no país.”

O raciocínio exige uma razão como contraponto, considerando a massa beneficiada: há de ser levado em conta o fato de que um outro polo – o alcançado pelas transformações – não foi alcançado para fazer força suficiente à ‘incompreensão’ da burguesia. Ou seja, o PT/Governo(s) pretendeu convencer tão somente a classe dominante, porque entendia que a base da pirâmide social o sustentaria. Ou melhor, por ela teria sido compreendido.

Essa sustentação – que assegurou 86% de popularidade a Lula quando deixou o governo – não se materializa na realidade. Basta ver a votação de Dilma para obter o segundo mandato, ainda que as mesmas políticas transformadoras estivessem em prática.

Esse ponto sempre norteou nosso pensamento em relação ao PT governando.

Vimos em Itabuna, nas duas gestões petistas. Como o vimos em nível Federal. O raciocínio de que o outro lado veria na perda de espaço apenas “um tempo”, que o toleraria porque a situação do povo em geral melhorou, e viria a aplaudir as políticas públicas postas em prática beira a idiotia purista, sempre nos soou como discurso pelo discurso.

Compreendemos – não o diz Damous – que se trata de um entendimento amadorístico de aplicação do republicanismo como conceito e suficiente para contrapor-se ao patrimonialismo. Sob tal viés, de não entender que aquele e este são incompatíveis.

Assim, ao não entender que um país construído, historicamente, sob privilégios de um patrimonialismo nefando, escravista, a aplicação pura e simples do republicanismo soa apenas como instrumento pedagógico, que depende de tempo (e instrumentos conscientizadores, através da internalização dos elementos que lhe são conceituais) que levem – sabe Deus o tempo! – a alcançar a consciência de pátria, nação, cidadania, o que passa – necessariamente – pelo controle da comunicação.

Tal republicanismo – a história do país o demonstra, quando analisado em termos comparativos – somente pode ser plenamente aplicado proporcionalmente a uma sociedade que os entenda inteiramente. Caso contrário, como exemplo que o seja, exige um processo de educação cívica. 

Sem essa, também no ralo o respeito às instituições que fariam da pátria, da nação e da cidadania os pilares e valores do Estado Nacional.

Damous abre a discussão interna. Para quando o PT retomar o controle das Políticas de Estado em favor da transformação da sociedade brasileira, como ocorreu nestes anos petistas à frente do Governo Federal.

Quando nada, que possa servir de exemplo a outras vertentes políticas à esquerda.

Afinal, apenas a ponta do iceberg veio à tona. Trazendo riscos como o observado por Aroeira.

 


Contratualismo versus patrimonialismo I
Não há Hobbes, Locke ou Rousseau que consigam teorizar um Estado moderno sob a égide do patrimonialismo. Tampouco Montesquieu edificará instituições que o consolidem sob tal domínio, se cada um dos poderes se apropria em benefício próprio. Este é cancro que corrói aquele, através de uma classe dominante, dirigida por sua elite crème de la crème que a tudo comanda em benefício particular. Desde o que dependa da ação político-eleitoral ao que deva decorrer de seleção.

O contratualismo desenvolvido no curso de quase dois séculos se viu aperfeiçoado no Iluminismo e Montesquieu lhe deu a fórmula institucional, de poderes independentes e harmônicos, onde o contratualismo lockeano e rousseauriano se materializavam por via da representação popular, mais acentuada em Rousseau, que a via melhor na comissariada, onde as decisões dos representantes passariam pelo crivo dos representados (plebiscito) para sua confirmação.

Fundado em premissas hobbesianas o absolutismo monárquico primitivo tem sua incompatibilidade justamente em não conseguir conviver com a res publica porque aquele tinha como proprietário o monarca, legitimado pelo ‘divino’ – como o teorizou Jacques Bossuet – que lhe assegurava o poder conferido e só à divindade cabia prestar contas. Nunca ao povo, porque a este cabia sustentar aquele.

Contratualismo versus patrimonialismo II
O patrimonialismo contemporâneo – histórico nesta terra brasilis desde primórdios da Colônia, quando D. Manuel, O Venturoso, distribuiu ‘suas’ terras (as brasileiras) em Capitanias hereditárias – exercita, por sua classe dominante, aquela incompatibilidade teórica, tornada prática, onde nada escapa, tornado casta monárquica diluída nos diversos e distintos segmentos oligárquicos, que disputam no dente a parte maior do bolo, mas se unem, xifópagos, quando algo põe em risco dito controle. Nem mesmo a representação popular, peça tão somente do jogo político para controle do poder ‘absoluto’ da classe que o controla.

Inegavelmente a pedagogia petista no exercício do poder somente encontra melhor compreensão em sociedades onde a consciência cívica melhor se formou, ainda que não em plenitude. E paga o preço – alto para a sociedade – por não haver inserido no contexto da consciência a autoestima que fez presente enquanto governou.

O trabalho desenvolvido – com empenho pelas instituições todas que traduzem essa visão oligárquico-patrimonialista – reside, hoje, em sepultar Lula como líder e tornar o PT o PTB de Vargas.

O golpe é uma fase. A primeira desta etapa. Onde o patrimonialismo está vencendo o contratualismo.

Contratos: de Rousseau ao brasilis
O Contrato Social de Jean-Jacques Rousseau tem natureza abstrata.

No Brasil, concreta. Assinado, objetivamente, entre integrantes da classe dominante partilhando o butim oriundo da queda do Estado Democrático de Direito que capengava, mas existia.

Resta-nos o moralismo religioso: entregar a Deus.

A batalha perdida
Falando de conquistas que a sociedade não enxerga, porque mais lhe interessa sobreviver à fome e à miséria da qual havia escapado mas não compreendia que fora real, um ponto se fazia crucial ser posto em prática: a comunicação.
Tal não ocorreu, em essência.

Tanto que a ela resta, de tudo que passamos, sublimar na volta ao folhetim como Esperança. No horário nobre da televisão, como no horário nobre do rádio antigamente.

Dessa forma, a sociedade – no plano geral – afetada pela ‘informação’ deixa de enxergar o que é visível. Não percebe, no imediato, que ocorre. Desprovida de espírito crítico só descobre que existia leite depois de derramado e faltar-lhe na mesa.

Carta Testamento I
Das lições imediatas deixadas pela insustentável condenação de Lula – esperada porque programada e articulada para acontecer e ferir de morte o ex-presidente como político e o PT como partido – aquela posta por Lula na entrevista coletiva concedida: “Quem acha que é o fim do Lula vai quebrar a cara. Quem tem direito de decretar o meu fim é o povo brasileiro”.

Resposta de um Getúlio Vargas vivo, dispensado de Carta Testamento.

Carta Testamento II
Das lições imediatas deixadas pela insustentável condenação de Lula – esperada porque programada e articulada para acontecer e ferir de morte o ex-presidente como político e o PT como partido – aquela posta por Lula na entrevista coletiva concedida: “Quem acha que é o fim do Lula vai quebrar a cara. Quem tem direito de decretar o meu fim é o povo brasileiro”.

Resposta de um Getúlio Vargas vivo, dispensado de Carta Testamento.

Faltou dizer como
Da cantada e decantada sentença o mais hilário surrealismo (de fazer inveja a Kafka) porque inteiramente impossível de cumprimento:

“944. Condeno Luiz Inácio Lula da Silva:
“...Entre os crimes de corrupção e de lavagem, há concurso material, motivo pelo qual as penas somadas chegam a nove anos e seis meses de reclusão, que reputo definitivas para o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva....
950. Considerando que o apartamento 164-A, triplex, Edifício Salina, Condomínio Solaris, no Guarujá, matrícula 104801 do Registro de Imóveis do Guarujá, é produto de crime de corrupção e de lavagem de dinheiro, decreto o confisco, com base no art. 91, II, "b", do CP.”

Como ironiza Uraniano Mota, veiculado no Luís Nassif on line:

“Resta apenas saber, para que se cumpra a punição do confisco: de quem o juiz tomará o tríplex do Guarujá? De Lula, da OAS, da Caixa ou das páginas da sua inflada e oca sentença? A resposta que esclareça de quem se confisca, sem dúvida, confiscará também o castelo de cartas da condenação.”

A teoria           
Contra teorismos absurdos e inconsequentes que deram de ocupar a cabeça de alguns julgadores – desde a famosa fundamentação de que não havia prova contra o acusado (José Dirceu) mas a literatura jurídica autorizava a condenação (voto de Rosa Weber) – vivemos a singular realidade para a advocacia, especialmente a criminal: o melhor advogado é Deus. E olhe lá!

A lição de Lênio Streck, no Conjur, embute a ironia de uma ‘teoria do pintinho envenenado’, observada em julgamentos pela Tribo Azende, da África Central; diante do acusado um pintinho é alimentado com certa dose de veneno; caso o pintinho sobreviva o acusado será absolvido; caso não...

No caso Lula Lênio afirma – com sobejas razões – que só com a aplicação da teoria da tribo africana poderia Lula ser inocentado.

De nossa parte afirmamos, como no caso de Deus como advogado: E olhe lá!

Desproporção
Dos 962 parágrafos que fazem o texto da sentença morina somente cinco em torno da defesa - diz Zanin, advogado de Lula, em matéria de Cíntia Alves no GGN.

Diante dos inúmeros argumentos da defesa, no curso de dezenas de depoimentos, não analisadas, significa que a decisão baseou-se unilateralmente na acusação sem provas e convicções.

Sem falar nas provas requeridas pela defesa e negadas.

Como prova material: uma matéria de O Globo.

As omissões já foram objeto de Embargos de Declaração.

Safári curitibano
Um juiz que precisa citar, sete vezes, reportagem de um jornal, confessa que não tem provas. Apenas convicções. 

E mais: se baseia em matéria de jornal, de 2010 – ainda que não tenha conseguido prova-la.

Cumpriu a missão que lhe foi delegada. Não pela Justiça, ressalte-se.

Do safári curitibano só restará o troféu. Que pesará na consciência, quando a evolução moral o permitir.

Não haverá hariquiri
Não haverá hariquiri. Não porque no Brasil não haja samurais e seu código de honra, onde a vergonha os leva ao suicídio heroico.

Não, não haverá hariquiri no Brasil. Não, porque no Brasil de Moro e quejandos o que muito falta é vergonha. E na sua falta não há código. Porque prevalece o cinismo, que o dispensa.

Fica-nos, de tudo isso, um quê de certeza que Moro perdeu a batalha.

PIB despencando
Para 1,3%, diz o FMI. Previa anteriormente, 1,7%.

E o arrocho apenas começando. 

Transferindo a conta
Os escândalos alcançam o governo do interino tornado presidente. 

Não bastasse, as ditas políticas voltadas para a Economia afundam o país, assolam a classe trabalhadora com o desemprego, retiram dos jovens a Esperança, o país avança para o caos.

Solução encontrada: cobrar dos trabalhadores e aposentados.

O que resta, ainda
A avaliação boa e ótima (7%) do governo interino tornado presidente perde de goleada para regular (16%). 

76% de ruim (36) e péssimo (40%) estrondam nos tímpanos do Jaburu.

São dados do DataPoder360.

Collor lembrou o pai
Ao lembrar do pai o senador Fernando Collor trouxe em seu voto contrário à reforma da CLT as bases do retrocesso que ora nos é imposto. 

Todos avanços a partir de 1930, atualizados no curso de 497 modificações, além das 67 disposições constitucionais inseridas na Carta de 1988 – como lembra Collor – vão por terra.

Estamos retornando à República Velha, a das oligarquias, como paradigma. 

Com outras oligarquias, naturalmente.

Algumas reações ao conteúdo da decisão de Moro contra Lula

“Juridicamente ridículo”

“Delação premiada informal” 

"Lixo jurídico completo"

De tudo, no final, restará mais uma jabuticaba brasileira: uma decisão judicial esqueceu de fazer justiça, à luz dos elementos contidos no processo, e fez política.


    Singela homenagem ao instante 


                   

domingo, 9 de julho de 2017

Entre Feuerbach, Freud e Lampedusa

Só nos resta a dogmática de Fé. Através dela permaneceremos sublimando no Altíssimo todas nossas incapacidades. Os problemas por nós criados alienados a um Todo Poderoso que passa a nos assegurar – em outro plano – o que aqui não conseguimos efetivar. Afinal, um super protetor tão somente, criado a partir de nossas mazelas, que apenas cobra comportamentos (sem questionamentos) que assegurem o espaço desejado, prometido no outro plano que criamos.

Em nível de Brasil Feuerbach ou Freud encontram terreno para suas teses, em relação ao homem negado antropológica e psicanaliticamente. Mas não encontrarão resposta às suas interpretações.

Ainda que amparada na ausência do fenômeno espiritual como elemento de convicção moral, a análise histórica de uma sociedade amparada, de priscas eras, no patrimonialismo que fez edificar sua classe dominante, leva-nos a vê-la sustentada – hoje, como ontem – na informação que lhe chega. Ontem, através da voz da casa-grande e do púlpito; hoje, dos meios de comunicação, onde se destaca a radiodifusão.

Escolhido o instante melhor para fazer tudo acontecer faça-se acontecer. Mais recentemente – últimos 70 anos – o mesmo mote: a corrupção – apontada a dedo a do outro, afastada a minha – que nos legou convulsões institucionais que levaram um presidente ao suicídio, um golpe civil-militar e o recentíssimo, de caráter legislativo-judiciário.

Como tudo acontece em razão da corrupção e por causa dela tudo passamos, só nos resta o sobrenatural para salvar-nos aqui – ou esperarmos a salvação em outra vida. Enquanto não morremos dependeremos dos salvadores (da pátria) terrenos para enfrentar – por nós – o satânico contido na corrupção.

Inteiramente afastados, desligados da realidade cotidiana apenas vemos e respondemos ao que nos chega através dos que nos manipulam. E são eles a afirmar que tudo por que passamos reside num mítico ser, pau para toda desgraça: a famigerada corrupção. Dispensada de ser analisada sob o condão histórico e sociológico.

Na esteira da fogueira inquisitorial adredemente acesa vão-se culpados e inocentes.

Sob esse cariz a aposentadoria e o trabalhador tornam-se desgraça.

Natural que o seja: onde o patrimonialismo impera o fator trabalho e o que lhe seja afeto pagam a conta. Na falta de chibata e do pelourinho imponha-se reformas salvadoras como purgação.

Para isso mude-se para manter tudo como nos interessa – diria o príncipe de Falconeri, em O Leopardo. 

Que o diga a composição do governo imposto e quem o alimenta. Daqui e de fora.

Para compreender esta terra brasilis dispense-se praticar Feuerbach e Freud; fique-se com Giuseppi Tomasi di Lampedusa.

De volta
O Brasil dele saíra, por meio de políticas de Estado voltadas para a redução das desigualdades e de distribuição de renda. Emprego, ganho real para o salário mínimo e programas sociais (Bolsa Família, Pronaf etc.).

Apenas um ano de (des)governo faz o país voltar ao mapa da indignidade humana.

Ainda que a imprensa comprometida doure a pílula tornando o que é real (veja o leitor o número de pedintes nas ruas) em facultativo (pode), como o fez O Globo: “Crise pode levar o Brasil de volta ao mapa da fome”.

Há quem não acredite
A Confederação Nacional do Comércio já constatou o fechamento de 9.965 estabelecimentos do varejo brasileiro.

Só no primeiro trimestre de 2017.

Há quem não acredite. Como muitos colunistas de Economia.   

Eis o caos
O que se espera de investimentos em galpões, prédios, máquinas, estradas, refinarias, usinas, pontes etc. como instrumento de motivação à atividade econômica se encontra abaixo do que o que houve em 2000, são dados tabulados pelo IBGE/IBMC a partir de 2000.

O quadro é de tornar o pessimista de hoje em otimista diante do que vem por aí.

De barriga cheia
Não nos causa nenhum júbilo alguém chorar, ainda que inimigo o fosse. O choro de alguém é dele apenas. Há, no entanto, quem o tenha para gáudio próprio.

O choro de Geddel – estranhamente vazado em vídeo – nos leva, por outro lado, a compreender que faz parte de sua existência: chora em depoimentos, desde 1993 na CPI dos Anões do Orçamento (quando escapou da cassação graças a Luiz Eduardo Magalhães, então líder do PFL, a quem implorou por intervir a seu favor) e mesmo em eventos públicos.

Há quem diga que é da natureza do crocodilo: chorar enquanto come.

O crocodilo, enchendo a barriga; Geddel, de barriga cheia. 

Prescrição
Que pareça nada, mas nada não é. O patrimônio do povo se foi. E nada acontece. Porque o Estado – em sua dimensão punitiva – só alcança pobre, preto, puta e petista (atualmente).

Prescrição, caro leitor, é a circunstância que decorre da omissão do aparelho estatal (investigativo e punitivo) em apurar e punir os que praticaram ilícito, inclusive os que lesaram o Estado.

Os prejuízos causados ao país no período FHC com as privatizações são incalculáveis. Crimes de lesa-pátria. Tudo hoje prescrito.

Os crimes se repetem no imediato deste (des)governo. Confiam – e não lhes falta certeza – na prescrição.


A ironia de Aragão
As náuseas de Janot sob análise de Eugênio Aragão, no Conversa Afiada.

O detalhe: Aragão está certo!

O interino no exterior
Pelo que representa/representou, nada a registrar.

Nebuloso I
Não falta emblema e esse ritual de palestrar sobre o tema. Daí para uma igreja poder institucionalizar o culto não falta nada. Afinal, Dellagnol não vende só palestras, também sermões.

Tende a um espetáculo de caráter circense nos moldes Sílvio Santos com prêmios, bailarinas, perguntas e respostas, bonecos etc. etc. 

Não tardará a inserção de uma diversão tipo ‘tiro ao pato’ tendo o Lula como pato.

A propaganda já está na rua.

Nebuloso II
Uma rede de palestras vem ocorrendo. A instituição (pública) a serviço de interesses. 

E a sociedade se cala.

Inclusive a OAB.

Nebuloso III
O institucional virou comercial. Ou, como transformar uma instituição num negócio rendoso.

Diz Dellagnol que o dinheiro arrecado vai para a APAE paranaense. 

Eis um capítulo singular. De suspeitas antigas. Envolvendo, inclusive, a mulher do juiz Sérgio Moro. 

Pelo meio o antigo senador petista, Flávio Arns, convertido em tucano e atual secretário de Beto Richa. 

O irmão Arns por lá, que passa a se tornar advogado 'especialista' em delações na vara morinha.

Procuradores e delegados da Lava JAto ministram aulas em curso à distância de propriedade do irmão de MArlus, o irmão de Arns.

Denúncias pipocam há muito. A última através de Luís Nassif, de onde extraímos a ilustração ao lado.

E a força tarefa envolvida, não sabemos em que termos. 

Pelo menos como financiadora da APAE/PR.

Esperemos que não sejam os 'palestrantes' beneficiados de alguma forma pelo irmão de Flávio Arns. 

Porque, para muitos leitores, o que não falta é convicção.

Bem no cantinho
Reproduzimos observação de Fernando Brito no O Tijolaço:

[...] No cantinho inferior da coluna de Lauro Jardim, em O Globo, a notinha esclarecedora:
Sabe a tal “conta-corrente” de US$ 150 milhões na Suíça que Joesley Batista disse que disponibilizou para Lula e Dilma Rousseff em 2014? Não se espere extratos dessas contas. Joesley tem dito que dava o dinheiro em reais quando Guido Mantega pedia, e “descontava” da tal conta suíça. O que teria sobrado serviu para ele comprar alguns bens e o resto foi repatriado em 2016.
Ou seja, “tem a conta, mas não tem a conta”, entendeu?
É como o triplex do Guarujá, que “é do Lula” mas não é do Lula.
Ou a Friboi, que é do Lulinha, mas não é do Lulinha.
O que, pouco importa, porque “podemos condenar sem provas, como a nossa jurisprudência permite”.
Mas a “conta” vai para o Jornal Nacional e para as manchetes.
E o “não tem conta” para o “pé” de uma coluna.
E não adianta reclamar, porque é assim a nossa liberdade de imprensa.
No padrão Ricúpero: o que é “bom” a gente mostra, o que é “ruim, a gente esconde. [...]