domingo, 28 de maio de 2017

Miserere nobis

Há insistente mensagem persuasiva – não de agora – de lançar o dantesco que alimenta a corrupção (histórica) no Brasil no exclusivo lombo da classe política. Deixada ao largo uma pergunta elementar: há corrupção só de um lado?

Para responder à pergunta o isento leitor buscará – só a partir das denúncias (históricas) – o modus operandi de estamentos sociais e verá que de empresários a povo ninguém escapa. A não ser as honrosas exceções de sempre, porque nem tudo está perdido. Gregório de Mattos já o percebera no século XVII e pagou por perceber.

Um empresário (Emílio Odebrecht) diz haver tentado ‘comprar’ a Petrobras e a Telebras na era FHC com anuência de um grupo de comunicação (Globo) apoiando-o (mensagem persuasiva), espúria associação onde o grupo televisivo passaria, ainda que concessionário de serviço público, a ser dono da concessão; um outro (Joesley/JBS), afirma haver eleito 167 deputados, 16 governadores e 26 senadores.

A implantação de castas sociais – privilegiadas com dinheiro público – é fenômeno histórico. Em singular hierarquia e método.

Na terra do meu pirão primeiro (classe dominante detém a porção maior, quase total), até o mais inexpressivo cidadão foi cooptado. E acha normalíssimo até o “rouba, mas faz”.

Nosso caos mais se aprofunda – não só pela podridão que norteia a quase totalidade das instituições, com honrosas exceções – desde o remoto instante em que sedimentamos o inteiro desconhecimento do valor social do trabalho, marco inicial crivado a partir da denominada libertação da escravatura. 

Que nasceu consentida pela classe (rural) dominante no instante em que manter a senzala custava-lhe mais que remunerar com migalhas o ‘homem liberto’ e já dispondo da imigração europeia como contraponto ao que seria compromisso de grandeza social em ocupar as levas de desocupados oriundas da Abolição, porque nem ensaio houve de uma reforma agrária para dotar os novos despossuídos (que nasceram sem nada) de um naco do que ajudaram a construir.

Essa tragédia social permanece, com a classe dominante ocupando todos os espaços sem nem mesmo entender – muito menos praticar – o que em terras civilizadas passou a ocorrer desde a Revolução Industrial: mercado de consumo para sustentar a produção, gerar recursos e alimentar a atividade econômica onde o trabalho passou a ser olhado com outros olhos, como a base deste mercado consumidor.

Por aqui – muito mais profundamente que alhures – os estamentos dominantes aprofundaram o controle sobre o Estado, não importando os meios para a obtenção de resultados. E o ciclo se instalou: ponho no poder quem me interessa, manipulo o processo eleitoral para que tal ocorra, com dinheiro alcanço o resultado e lá adiante – não tão adiante – recupero com lucros e dividendos o “investimento”.

Natural que a classe que exerce e exercita o poder sempre transitou com desenvoltura – mais aqui, menos ali – por entre as trilhas do Poder/Estado. Qualquer que fosse o regime. Apenas as peças substituídas na alternância circunstancial entre democracia e ditaduras.

Mas, acima registramos “[...] que de empresários a povo ninguém escapa”. Varia o que cada um percebe. Sempre com honrosas exceções.

A classe política é a expressão mais visível da safadeza, concordamos. Mas, e o empresário, o banqueiro e o latifundiário que a elege para dela – ou através dela – beneficiar-se?

Sabemos que angustiado o leitor está para saber onde entra o povo nessa chafurdação. Simples: não só no instante em que vota naquele que condena porque recebeu um pedido ou dinheiro para tanto; ou quando se elege – com honrosas exceções – dirigente de associação (moradores, bairro etc.) e de imediato leva o termo de posse ao prefeito de plantão para “exercer o poder” de pedir um emprego para ele, a mulher, o papagaio, o gato etc.

Não seria exagero afirmarmo-nos aparelhos de um sistema vital, nacional, aburguesado sob a compreensão de Mário de Andrade (“A burguesia nunca soube perder e isso é que a perde” – Conferências) porque “pretende conservar o ser sem o parecer” (Barthes, em Mitologias).

Talvez nos reste – para não enveredarmos no pessimismo que a todos inspira – aprender com Graciliano Ramos o que de sua obra dizia Otto Maria Capeaux, para quem nela havia um secreto sentimento de misericórdia. Em relação a essa terra brasilis, mormente em sua contemporaneidade, não temos como afirmar se cristão ou socioantropológico há de situar-se o dito por Carpeaux.

Diante disso certamente fica mais fácil atribuir apenas à classe política as mazelas todas por que passamos.

Que Deus tenha misericórdia de nós!

Horizonte logo ali
A brutal recessão a que chegamos leva o Brasil ao absurdo de endividar a população/empresários sem oferecer-lhes saída. Afinal, sem atividade econômica não há consumo, receita tributária etc.

Nesse horizonte, logo à mão, a inadimplência não será somente a comissão de frente da escola do samba enlouquecido. 

Força
O risível em tudo é ficar de fora observando discussões isentas de quem vê sua opinião como solução para tudo o que ocorre – e vem ocorrendo há séculos – no Brasil, que já foi Ilha de Vera Cruz e Terra de Santa Cruz.

Lembra aquele infantil He-Man e o seu “Eu tenho a força!” 

Ovo de serpente I
Sem descrê da força dos muitos centros de produção de informação (inclusive manipulada). Óbvio que alguém rematará que nem todos veem blogs.

Como milhões não leem jornais e revistas, veem o Jornal Nacional.

Aí reside o perigo! 

Ovo de serpente II
Ouça e veja o vídeo e faça suas conclusões.

Ovo de serpente III
O estágio a que chegaram algumas instituições deste país não há espaço para comentarista avaliar este ou aquele ato praticado. Nem acusando, nem defendendo.

O melhor para o leitor é ver o quanto disponibilizado em nível de verdade factual pela imprensa. Caso não concorde o leitor apenas desconsiderará o quanto disponibilizado.

O primeiro deles (através do Conversa Afiada) mostra o que anda por trás do filme Polícia Federal – A lei é para todos. 

Sobre a parte final do título esperamos que o seja. Afinal, estão à espera o interino tornado presidente, Aécio, Geddel etc. etc. etc.

Ovo de serpente IV
O silêncio do noticiário global (Globo mesmo) em relação ao projeto Bolsonaro pode ser entendido como apoio escancarado à uma solução que lembre Collor x Lula em 1989.

O alerta vem de Wallace dos Santos Morais, no Le Monde Diplomatique.

Ovo de serpente V
Para não duvidar, veja o vídeo. Para compreender o que ora corre revisite a História, lendo Ascensão e Queda do Terceiro Reich, de William L. Shirer e assista “O Ovo da Serpente” (The Serpent’s Egg) – 1972, de Ingmar Bergman.

(O vídeo da recepção a Bolsonaro é do dia em que chegou a Curitiba para acompanhar a chegada de Lula, que seria sequestrado e preso em São Paulo para ser levado à Superintendência da Polícia Federal paranaense, onde lá o aguardava Jair soltando rojões).

A propósito de Geddel
Falam que o artista baiano prepara uma delação. Já é sabido que para ferrar Lula, Dilma, o PT e salvar – com sua honra pessoal – o PMDB dele e quejandos e o PSDB das vestais da moralidade...

E, provavelmente, liberar aquele andar no edifício da Ladeira da Barra, em Salvador. 

Oportunismo
Não vemos a iniciativa da OAB além de oportunista. Para a gloriosa instituição – que agora chuta cachorro morto que ajudou a levar ao poder – a defesa do Estado Democrático de Direito foi deixada de lado quando silenciou diante do impeachment sem causa/crime.

Sua atual postura não passa de oportunismo medíocre. 

Nossa classe dominante
Domina o osso. E a classe política para satisfazê-la. 


Os sinais
Ensaiado em Brasília o sinal dos sonhos – o controle pelos militares da política administrativa – não encontra anuência da sociedade – onde parte aplaude.

As cenas veiculadas, de Brasília ocupada, não traduzem o que diz o governo em relação à suas propostas.

Quem controla não ataca. O uso da força é ato de desespero.

A batalha de Brasília bem poderia sinalizar a queda de outra Bastilha.

Mas, cairá o presidencialismo para assegurar, com o parlamentarismo, o controle do país por um Congresso podre e caduco (por conveniência).

Convulsão social
Quem o diz é o Secretário-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, dom Leonardo Ulrich Steiner, na BBC Brasil.


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