domingo, 28 de maio de 2017

Miserere nobis

Há insistente mensagem persuasiva – não de agora – de lançar o dantesco que alimenta a corrupção (histórica) no Brasil no exclusivo lombo da classe política. Deixada ao largo uma pergunta elementar: há corrupção só de um lado?

Para responder à pergunta o isento leitor buscará – só a partir das denúncias (históricas) – o modus operandi de estamentos sociais e verá que de empresários a povo ninguém escapa. A não ser as honrosas exceções de sempre, porque nem tudo está perdido. Gregório de Mattos já o percebera no século XVII e pagou por perceber.

Um empresário (Emílio Odebrecht) diz haver tentado ‘comprar’ a Petrobras e a Telebras na era FHC com anuência de um grupo de comunicação (Globo) apoiando-o (mensagem persuasiva), espúria associação onde o grupo televisivo passaria, ainda que concessionário de serviço público, a ser dono da concessão; um outro (Joesley/JBS), afirma haver eleito 167 deputados, 16 governadores e 26 senadores.

A implantação de castas sociais – privilegiadas com dinheiro público – é fenômeno histórico. Em singular hierarquia e método.

Na terra do meu pirão primeiro (classe dominante detém a porção maior, quase total), até o mais inexpressivo cidadão foi cooptado. E acha normalíssimo até o “rouba, mas faz”.

Nosso caos mais se aprofunda – não só pela podridão que norteia a quase totalidade das instituições, com honrosas exceções – desde o remoto instante em que sedimentamos o inteiro desconhecimento do valor social do trabalho, marco inicial crivado a partir da denominada libertação da escravatura. 

Que nasceu consentida pela classe (rural) dominante no instante em que manter a senzala custava-lhe mais que remunerar com migalhas o ‘homem liberto’ e já dispondo da imigração europeia como contraponto ao que seria compromisso de grandeza social em ocupar as levas de desocupados oriundas da Abolição, porque nem ensaio houve de uma reforma agrária para dotar os novos despossuídos (que nasceram sem nada) de um naco do que ajudaram a construir.

Essa tragédia social permanece, com a classe dominante ocupando todos os espaços sem nem mesmo entender – muito menos praticar – o que em terras civilizadas passou a ocorrer desde a Revolução Industrial: mercado de consumo para sustentar a produção, gerar recursos e alimentar a atividade econômica onde o trabalho passou a ser olhado com outros olhos, como a base deste mercado consumidor.

Por aqui – muito mais profundamente que alhures – os estamentos dominantes aprofundaram o controle sobre o Estado, não importando os meios para a obtenção de resultados. E o ciclo se instalou: ponho no poder quem me interessa, manipulo o processo eleitoral para que tal ocorra, com dinheiro alcanço o resultado e lá adiante – não tão adiante – recupero com lucros e dividendos o “investimento”.

Natural que a classe que exerce e exercita o poder sempre transitou com desenvoltura – mais aqui, menos ali – por entre as trilhas do Poder/Estado. Qualquer que fosse o regime. Apenas as peças substituídas na alternância circunstancial entre democracia e ditaduras.

Mas, acima registramos “[...] que de empresários a povo ninguém escapa”. Varia o que cada um percebe. Sempre com honrosas exceções.

A classe política é a expressão mais visível da safadeza, concordamos. Mas, e o empresário, o banqueiro e o latifundiário que a elege para dela – ou através dela – beneficiar-se?

Sabemos que angustiado o leitor está para saber onde entra o povo nessa chafurdação. Simples: não só no instante em que vota naquele que condena porque recebeu um pedido ou dinheiro para tanto; ou quando se elege – com honrosas exceções – dirigente de associação (moradores, bairro etc.) e de imediato leva o termo de posse ao prefeito de plantão para “exercer o poder” de pedir um emprego para ele, a mulher, o papagaio, o gato etc.

Não seria exagero afirmarmo-nos aparelhos de um sistema vital, nacional, aburguesado sob a compreensão de Mário de Andrade (“A burguesia nunca soube perder e isso é que a perde” – Conferências) porque “pretende conservar o ser sem o parecer” (Barthes, em Mitologias).

Talvez nos reste – para não enveredarmos no pessimismo que a todos inspira – aprender com Graciliano Ramos o que de sua obra dizia Otto Maria Capeaux, para quem nela havia um secreto sentimento de misericórdia. Em relação a essa terra brasilis, mormente em sua contemporaneidade, não temos como afirmar se cristão ou socioantropológico há de situar-se o dito por Carpeaux.

Diante disso certamente fica mais fácil atribuir apenas à classe política as mazelas todas por que passamos.

Que Deus tenha misericórdia de nós!

Horizonte logo ali
A brutal recessão a que chegamos leva o Brasil ao absurdo de endividar a população/empresários sem oferecer-lhes saída. Afinal, sem atividade econômica não há consumo, receita tributária etc.

Nesse horizonte, logo à mão, a inadimplência não será somente a comissão de frente da escola do samba enlouquecido. 

Força
O risível em tudo é ficar de fora observando discussões isentas de quem vê sua opinião como solução para tudo o que ocorre – e vem ocorrendo há séculos – no Brasil, que já foi Ilha de Vera Cruz e Terra de Santa Cruz.

Lembra aquele infantil He-Man e o seu “Eu tenho a força!” 

Ovo de serpente I
Sem descrê da força dos muitos centros de produção de informação (inclusive manipulada). Óbvio que alguém rematará que nem todos veem blogs.

Como milhões não leem jornais e revistas, veem o Jornal Nacional.

Aí reside o perigo! 

Ovo de serpente II
Ouça e veja o vídeo e faça suas conclusões.

Ovo de serpente III
O estágio a que chegaram algumas instituições deste país não há espaço para comentarista avaliar este ou aquele ato praticado. Nem acusando, nem defendendo.

O melhor para o leitor é ver o quanto disponibilizado em nível de verdade factual pela imprensa. Caso não concorde o leitor apenas desconsiderará o quanto disponibilizado.

O primeiro deles (através do Conversa Afiada) mostra o que anda por trás do filme Polícia Federal – A lei é para todos. 

Sobre a parte final do título esperamos que o seja. Afinal, estão à espera o interino tornado presidente, Aécio, Geddel etc. etc. etc.

Ovo de serpente IV
O silêncio do noticiário global (Globo mesmo) em relação ao projeto Bolsonaro pode ser entendido como apoio escancarado à uma solução que lembre Collor x Lula em 1989.

O alerta vem de Wallace dos Santos Morais, no Le Monde Diplomatique.

Ovo de serpente V
Para não duvidar, veja o vídeo. Para compreender o que ora corre revisite a História, lendo Ascensão e Queda do Terceiro Reich, de William L. Shirer e assista “O Ovo da Serpente” (The Serpent’s Egg) – 1972, de Ingmar Bergman.

(O vídeo da recepção a Bolsonaro é do dia em que chegou a Curitiba para acompanhar a chegada de Lula, que seria sequestrado e preso em São Paulo para ser levado à Superintendência da Polícia Federal paranaense, onde lá o aguardava Jair soltando rojões).

A propósito de Geddel
Falam que o artista baiano prepara uma delação. Já é sabido que para ferrar Lula, Dilma, o PT e salvar – com sua honra pessoal – o PMDB dele e quejandos e o PSDB das vestais da moralidade...

E, provavelmente, liberar aquele andar no edifício da Ladeira da Barra, em Salvador. 

Oportunismo
Não vemos a iniciativa da OAB além de oportunista. Para a gloriosa instituição – que agora chuta cachorro morto que ajudou a levar ao poder – a defesa do Estado Democrático de Direito foi deixada de lado quando silenciou diante do impeachment sem causa/crime.

Sua atual postura não passa de oportunismo medíocre. 

Nossa classe dominante
Domina o osso. E a classe política para satisfazê-la. 


Os sinais
Ensaiado em Brasília o sinal dos sonhos – o controle pelos militares da política administrativa – não encontra anuência da sociedade – onde parte aplaude.

As cenas veiculadas, de Brasília ocupada, não traduzem o que diz o governo em relação à suas propostas.

Quem controla não ataca. O uso da força é ato de desespero.

A batalha de Brasília bem poderia sinalizar a queda de outra Bastilha.

Mas, cairá o presidencialismo para assegurar, com o parlamentarismo, o controle do país por um Congresso podre e caduco (por conveniência).

Convulsão social
Quem o diz é o Secretário-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, dom Leonardo Ulrich Steiner, na BBC Brasil.


domingo, 21 de maio de 2017

Buracos profundos

Um escândalo moral quando o filme “Garganta Profunda/Deep Throat” (1972) – pornô dirigido por Gerard Damiano/Jerry Gerard, estrelando Linda Lovelace – exibiu sexo explícito. Adotado como símbolo da liberação sexual estadunidense nos anos 70 levava a que suas cenas de sexo fossem vistas como ataque à moral hipócrita. 

Com esse nome ficou conhecido o ex-diretor do FBI Mark Felt, a fonte que orientou a investigação de Watergate, o escândalo político que levou à renúncia o presidente Richard Nixon.

Em razão de gargantas profundas o país está vivendo em buracos.

Buraco I – oportunismo
A irresponsabilidade para com o país, em defesa de interesses eminentemente pessoais (ou de grupos restritos) levou a um buraco, no campo político, milhões de vezes maior que aquele do metrô de São Paulo, no campo físico.

Uma rápida rememoração exige lembrar: movimentos desestabilizadores de 2013 visando resultados em 2014, onde beneficiários seriam os opositores do então governo, com destaque para PSDB/DEM/PPS e penduricalhos deram o passo planejado, urdido a partir do exterior descontente com o papel desenvolvido/assumido pelo Brasil no cenário da geopolítica mundial.

Correndo por fora e alimentando a fogueira Eduardo Campos e seu PSB, que teria Marina Silva no costado. Seria o tertius para o sistema caso não pudesse o PSDB ir ao segundo turno e ele, Campos, encarnaria a concentração opositora e se elegeria presidente, derrubando o governo então no poder e que viria a ser reeleito.

Não dando certo pelo viés eleitoral, o resultado foi de imediato contestado. Não por fundamento legítimo, mas por insatisfação em permanecer a classe dominante fora do controle absoluto do poder por mais quatro anos.

Em torno do projeto se uniram membros do Poder Judiciário (incluindo STF), do Ministério Público e da Procuradoria da República, do Poder Legislativo e da grande mídia capitaneada pelo sistema Globo. Não mais a prevalência do Estado de Direito, do respeito às leis. Mas a ocupação do torreão instalado no Palácio do Planalto de qualquer forma e maneira – como diz o caboclo mineiro. 

Assegurando-lhes apoio logístico forças internacionais coordenadas a partir dos Estados Unidos.

Afastada a presidente eleita assumiu o interino, que se tornou permanente, não para corresponder ao programa de governo que elegera a chapa majoritária. 

Então a crise política aprofundou-se em decorrência da ilegitimidade. Afinal, não se tratava de um vice que assumia, mas um títere para assegurar mudanças no Estado para atender aquela classe dominante em sua vertente nacional e (mais) internacional. Desmontar o patrimônio estatal amealhado nos últimos anos (o pré-sal) e fazer efetivar promessas de Malan/FHC em 1999 não materializadas em razão da vitória de Lula em 2002 através de privatizações/doações.

Ocorre que o discurso moralista – sempre incompatível, como solução, com o político – não poderia desaguar em outra coisa. Imaginar que uma viciada – historicamente – classe dominante, habituada a dar as ordens desde a Colônia, exploradora em sua essência, individualista, destituída do mínimo resquício de concepção de Pátria e Nação trouxesse solução para uma crise onde ela mesmo em muito (muitíssimo) ajudou seria acreditar em papai noel.

A composição das forças que assumiram o poder – apodrecidas por convicção e método – exacerbaram na dosagem de partilha do butim. 

Temos que uma certa insegurança quanto ao futuro e a incerteza quanto a permanência no controle levaram a uma ação de governo que escancarou sua dimensão assaltante.

E não deu outra. Porque o jogo já não tem o domínio absoluto deste ou daquele grupo, mas de um conglomerado que começou a se ver minado por denúncias fora da unidade de um controle político. Cada um vivendo outro oportunismo: o de salvar a própria pele.

Buraco II – fonte
No país onde somente um partido político – e suas lideranças – era apresentado como quadrilha única se viu, de um instante para a outro, escancarado, inteiramente nu. Nem mesmo a informação manipulada, praticada pela mídia, teve como selecionar e filtrar o que tinha que divulgar, atropelada que foi pela avalanche dos fatos.

A sequência de delações de grandes empresários atingiu um ponto sem retorno. Justamente porque o modus operandi é único: financiamento/controle privado do poder político em sua dimensão representativa (Executivo e Legislativo). Em outras palavras: uma parcela significativa de deputados, senadores, chefes do Poder Executivo (em todos os níveis) são eleitos por empresas. 

(Até o momento estão na berlinda somente parte delas, visto que o sistema financeiro e bancário não perderam ainda suas vestais. Questão de tempo – que o diga uma anunciada delação/ameaça de Antônio Palocci).

O dito pela Friboi/JBS (apenas uma parte do sistema) bem demonstra o nível de controle, amparado num processo eleitoral que existe para que tal ocorra: só dela saiu dinheiro (600 milhões de reais) para irrigar a campanha de 1.829 candidatos de 29 partidos políticos, conseguindo “eleger 167 deputados federais de 19 siglas, bancou 28 senadores e fez 16 governadores” (O Globo).

Ainda que o dito pela empresa dependa de comprovação em torno de sua veracidade quanto à finalidade – para não generalizar – os números assustam: mais de um terço na Câmara, quase outro no Senado e mais da metade dos Estados brasileiros, por seus governadores. 

E isso apenas oriundo da JBS! E o empresariado das FIEPSs da vida, dos bancos, do agronegócio?

Buraco III – não escapa um!
Não se tenha – sob visão imparcial ou mesmo apologética, muito menos altruísta – a iniciativa dos sócios da JBS/Friboi como oriunda de um surto moralista. Apenas mais um na cadeia (ops!) que domina o país – mais competente que a Odebrecht – que dimensionou os riscos para o conglomerado que atua além mar, com base nos Estados Unidos, hoje dependendo do Brasil menos do que se imagina.

Não passa a atuação denunciada da demonstração do que realiza essa classe dominante. Colonialista, entreguista, descompromissada com o país e seu povo, que realiza aqui o ganho sonhado para consumo lá fora.

Nenhum altruísmo na JBS/Friboi. Apenas salvar os dedos, entregando alguns anéis.

Emílio Odebrecht cinicamente já afirmara como agia, inclusive de sua tentativa de adquirir Petrobras e a Embratel (com ajuda da Globo) no curso das privatizações promovidas por FHC.

Da mesma forma que buscamos criminalizar a Política e a generalidade dos políticos, também que deles se diga: não escapa um!

Buraco IV – Judiciário
Disse-o a ex-ministra Eliana Calmon que nem o Judiciário escapa à apurações.

A JBS/Friboi tem – pelo divulgado – controle sobre juízes. E, sabe-se lá mais o que venha dessa trilha.


Buraco V – Ministério Público
Considerando que seja parcela insignificante da representação corporativista, o santo do pau oco também se faz presente no Ministério Público. 

Haja vista um dos Procuradores que defendeu aquelas ’10 medidas contra a corrupção’ estar preso e sob investigação.

Buraco VI – imprensa
Na mesma esteira a divulgação, pelo sistema Globo, das denúncias que abalaram os pilares da política nacional. Veja o porquê.

Por que?
Caso não assumisse a divulgação outra televisão noticiaria. 

Então, simplesmente perderia a publicidade da JBS/Friboi que – dizem – hoje sustenta 70% da folha da TV Globo.

Como dizia o amigo Pitanga, lá em Itororó: Ou calça de veludo ou bunda de fora.

Buraco VII – Direitos e Garantias constitucionais
Mais buraco nas garantias individuais. O aprofundamento do caos leva à generalização de que o que está acontecendo está certo. 

Opinião não é ciência. Assim, da mesma forma que Delcídio foi preso também o afastamento de Aécio Neves – ainda que não preso – padece de respeito à ampla defesa e métodos a ela inerentes: procedimento processual instaurado, direito à defesa etc. etc.

"Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação”
Faz parte do diálogo mineiramente humanístico de Aécio com Joesley.

Cristina Aparecida, modelo, assassinada por volta de 2000. Diziam ser ela ‘mula’ do esquema de Furnas, que alimentava o ‘mensalão tucano’. 

Havia um cara, em Minas Gerais, ex-policial, que dizia, com todas as letras: “Aécio Neves é traficante”. Morreu.

Todas as desconfianças que dizem respeito à relação Aécio e narcotráfico voltam à tona. 

Inclusive aquele famoso helicóptero do Perrela (destinatário do dinheiro rastreado pela Polícia Federal). 

Tancredo Tolentino – primo de Aécio – ficou famoso soltando narcotraficantes com ajuda de um desembargador de Minas Gerais ao módico preço de R$ 120 mil.

"Acossado"
Não o filme (A bout de souffle), clássico de Jean-Luc Godard, de 1960, mas o interino tornado presidente.

“Tem que manter...”
Entrará para a História como o “Independência ou Morte” dos acossados.

O interino está certo!
“Não renunciarei!” – diz o interino tornado presidente. 

Está certíssimo.

Sairia do Planalto para a cadeia. 

Caso não dependesse dos dois juízes comprados pela JBS.

Sublimação
Dilma foi afastada em razão de umas tais pedaladas. Nunca confirmadas. Ao contrário, inexistentes, ou praticadas por todos os que ocuparam o cargo, inclusive o interino.

E a República se vê diante de uma quadrilha – em todos os termos – no Poder.

Que não pratica pedaladas, mas assaltos, mesmo! 

Lula liquidado
Não afastem Lula como alvo. Afinal mostrar que estão atingindo a todos atingir a Lula – massacrado pela mídia – é apenas mais um.

Sua condenação por Moro, mesmos sem provas, passa a ser justificada.

Não esquecer que Lulinha sempre foi um dos donos da Friboi – coisa divulgada e internalizada no imaginário de parcela da população.

Para a mídia condenação de Lula será apenas a do ‘chefe’.

O mote
O Globo já fala em R$ 150 milhões da Friboi para Lula e Dilma. Não diz se para campanhas ou para cota pessoal. 

Nenhuma delação vinda a público, até agora, cita o nome dos dois como beneficiários diretos. 

No entanto, há muito circula que Lulinha – o filho – é dono da Friboi.

Subornado
Na Lava Jato há(via) um procurador subornado pela Friboi. Supimpa!

Esse Lulinha é capaz de tudo!

Lembrado, para não ser esquecido
O juiz Sérgio Moro afastou as perguntas encaminhadas por Eduardo Cunha ao interino tornado presidente.

Está explicado.

Coisa estranha
Quem pôs as provas (filmagens, interceptações etc.) nas mãos da Friboi e autorizou a divulgação?

Na rede
Gozador na rede fala em possível pedido de asilo político por Aécio Neves. 

Buscará asilo na República de Curitiba, onde se dá muito bem com o presidente de lá.

Miúra
Sabíamos que há muito nelore na linha de abate da Friboi. Mas nunca imaginamos que dispusesse de miúra contra desafetos.

                       


Momentos de ternura
Entre encantamentos e ternuras, figuras angelicais se encontram. Como a construir a personagem de Aldir Blanc “Esmeraldo Simpatia É Quase Amor” (Rua dos Artistas e Arredores, originário de crônicas publicadas no Pasquim).

Só falta a turma repetir o bloco carnavalesco – inspirado na personagem de Aldir – “Simpatia é quase amor”.

Tanto que não cansaremos o leitor com fotografias de Moro, Aécio, o interino, Luciano Huck etc. etc. etc. etc. entre homenagens, brindes e abraços

Novidade!
Há quem se escandalize com a intimidade (incluindo pedidos) entre o senador Aécio neves e o ministro Gilmar Mendes, do STF.

Inocente!

Não interprete mal ou faça mal juízo da coincidência ao lado.

domingo, 14 de maio de 2017

Entre confissões

Eis uma semana de confissões. As mais gritantes se fazem a partir do depoimento de Lula ao juiz Sérgio Moro, analisadas a seguir. 

Mas, não ficou nisso: a posição de Marco Aurélio se declarando impedido de atuar em processos de um escritório em que uma sobrinha atua (contraponto ao escândalo de Mendes atuar em processos do escritório de Sérgio Bermudes, onde advoga sua mulher) leva-nos a compreender a dimensão de podridão em que se encontra o Judiciário brasileiro, a considerar os duelos entre membros do Supremo Tribunal Federal. 

Não nos esqueçamos que Joaquim Barbosa chamou Mendes de chefe de jagunços.

No mais, as charges de Laerte e de Aroeira contam tudo.

Confissão I
A mídia amestrada e compromissada com interesses muito mais externos que internos (se internos o fossem, da classe dominante) alardeia ‘confissão’ de Lula em seu depoimento ao juiz Sérgio Moro. 

Quem assistiu, com a isenção necessária a um julgamento realístico diante dos fatos ali ocorridos, sabe que houve, sim, um massacre de Lula implorando – até “pelo amor de Deus” – que apresentassem uma prova contra ele.

No entanto temos que houve uma confissão: no imediato do depoimento a iniciativa do sistema que o persegue (que passa não só pelos conhecidos membros do Ministério Público e do Judiciário) cuidou de alardear novas denúncias contra o ex-presidente, agora com a valorosa contribuição do ministro Fachin, do STF – haja vista o timing no encaminhamento de peças de que dispunha para Curitiba – o que demonstra o fracasso inquisitorial do caso do tríplex, depois de três anos de ‘investigações’.

Eis a ratoeira em que está metido Sérgio Moro: andando em círculos sem provas e condenar para agradar a mídia e a classe dominante.

Na falta de provas – e até então, de uma delação (sem prova) para sustentar o domínio do fato – até mesmo um procurador chegou a lamentar que Lula não tivesse produzido provas contra si (como registra Jeferson Miola em seu facebook, reproduzido no GGN), dão sinal de instaurar outro processo com base nas delações de João Santana e sua mulher.

Ou seja, o lawfare prossegue “mais forte do que quando começou” (verso de Sodade, Meu Bem, Sodade, de João do Vale).

Confissão II
A repercussão da audiência deixa claro o que está acontecendo contra Lula – até que provem acusações – ficou confessada: perseguição. 

Até o mediano cidadão – ainda que habitué do Jornal Nacional – já começa a dizer o que juristas (brasileiros e estrangeiros) vem dizendo: não se trata de um processo judicial, mas político.

Confissão III
Esta muito bem velada: Lula não será presidente, eleito em 2018, em razão e três desdobramentos: 

1. Inviabilização de sua candidatura; 

2. Implantação do parlamentarismo (de ocasião, como ocorreu em 1961 para impedir a posse do vice João Goulart); 

3. Prorrogação de mandato, com alguém eleito indiretamente, caso o interino tornado presidente não tenha condições de chegar até lá e continuar no serviço sujo a que se submeteu (caminha para doar reservas de ouro na Amazônia, como denuncia Fernando Brito).

Confissão IV
A afirmativa tornou-se lugar comum, como na declaração de voto de Rosa Weber, do STF (assessorada por este mesmo Sérgio Moro), da AP 470 (o denominado ‘mensalão’ petista): não tenho provas contra José Dirceu mas a literatura jurídica me autoriza a condená-lo. E condenou-o (sem provas, como disse).

No processo criminal – diferente do civil – a prova é objetiva, de forma alguma subjetiva, por convicções.

Mas para Sérgio Moro condenar Lula não é questão de apuração e provas no processo, mas 'de honra', ainda que destrua princípios, fundamentos e legislação (incluindo a Constituição).

Eis a confissão maior de tudo o que ocorreu no processo que acusa Lula de ser dono de um tríplex em Guarujá: não é processo, mas afastar uma liderança que tornou o Brasil personagem central no cenário internacional, o que muito incomoda os Estados Unidos, a quem serve Moro e sua turma.

Confissão V
Não se diga que houve cortesia de Lula no curso da audiência. Em muitos instantes foi até petulante.

Confissão contra Moro e o processo incriminatório: a força da verdade (de Lula) superou a armação.

E Moro ficou diminuto diante de Lula. Como tem sido no exercício político-judicial na Lava Jato.

Confissão VI
Haja o que houver, do duelo entre Lula e Moro/Lava Jato uma só conclusão: Entre a autoridade da razão e a autoridade da investidura a História registrará a primeira, como anotou alguém na rede.

“Então pode guardar, por gentileza”
Anotações de Maurício Dias em “O tríplex ruiu” no “Rosa dos ventos”, na Carta Capital, não podem deixar de ser lidas e entrar no rol do que aqui denominamos ironias hilárias promovidas por Lula. 

Bem o perceberá o leitor que a inexistência de nenhuma referência ao juiz Moro na imprensa que o aplaude demonstra quão significativas a tiradas de Lula:

Lula: “O Dallagnol não tá aqui. Eu queria o Dallagnol aqui pra me explicar aquele Power-Point”, falou olhando para os procuradores da Lava Jato.

Moro: “Tem um documento aqui que fala do triplex”.

Lula: “Está assinado por quem?”

Moro: “A assinatura tá em branco...”

Lula: “Então, o senhor pode guardar, por gentileza”.

Moro: “Esse documento em que a perícia da PF constatou ter sido feita uma rasura. O senhor sabe quem rasurou?”

Lula: “A PF não descobriu quem foi? Não? Então, quando descobrir, o senhor me fala. Eu também quero saber”.

Moro: “Saíram denúncias na Folha de S. Paulo e no jornal O Globo de que...”


Lula: “Doutor não me julgue por notícias, mas por provas”.

Moro: “Senhor ex-presidente, você não sabia que Renato Duque (ex-diretor da empresa, hoje preso) roubava a Petrobras?”

Lula: “Doutor, o filho, quando tira nota vermelha, ele não chega em casa e fala: ‘Pai, tirei nota vermelha’.

Moro: “Os meus filhos falam”.

Lula: “Doutor Moro, o Renato Duque não é seu filho”.

Por falta de provas
Não há outra interpretação. Definitivamente virou bagunça. Um acusado anda investigado durante três. Ao final, durante interrogatório, é perguntado pelo juiz se sabe de matéria publicada em determinado jornal no ano de 2010.

Esta a pergunta de Moro a Lula, segundo O Globo (naturalmente), que Lula não teria respondido.

Certamente pode ser o elemento basilar de uma convicção para uma condenação.

Afinal – o que não se sabia – A/O Globo é auxiliar de acusação na vara do Moro.
Daí, para uma condenação POR FALTA DE PROVAS não custa.

Auxiliar de Acusação
O fato de que o juiz Sérgio Moro indagou a Lula sobre haver lido matéria de O Globo veiculada em 2010 demonstra a quantas anda a força probante nos referidos autos.

A ponto de carecer de seu principal auxiliar de acusação: o sistema Globo.

A senha
De Lula, no final da audiência:

"Aqui, na sua sala, tiveram 73 testemunhas. Grande parte de acusação do Ministério Público. E nenhuma me acusou. O que aconteceu nos últimos 30 dias, doutor Moro, vai passar para a história como o 'mês Lula'. Porque foi o mês em que vocês trabalharam, sobretudo o Ministério Público, para trazer todo mundo para falar uma senha chamada 'Lula'. O objetivo era dizer 'Lula', se não dissesse 'Lula' não valia".

E com todas as letras acusou Moro de destruir a indústria da construção civil no Brasil. 

E mais: de vazar para a imprensa um telefonema entre ele e D. Marisa. 

Disse-o olhando nos olhos. 

Prova
A fala de Lula no final do depoimento será a ‘convicção’ perfeita para sua condenação. 

Até em razão da ironia em dizer que “O Sr. É muito jovem, jovem  tem menos paciência com velho”.

Envelheceram e envileceram
De Gilmar Mendes:

- Os antropólogos, quando forem estudar algumas personalidades da vida pública, terão uma grande surpresa: descobrirão que elas nunca foram grande coisa do ponto de vista ético, moral e intelectual e que essas pessoas ao envelhecerem passaram de velhos a velhacos. Ou seja, envelheceram e envileceram. 

Gilmar Mendes
"As prisões preventivas estavam sendo transformadas em cumprimento antecipado de pena. Se se quiser argumentar que a prisão preventiva é imprescindível para atingir determinados objetivos, aí estamos num campo minado, do ponto de vista do Estado de Direito, porque podemos estar usando a prisão preventiva como instrumento de tortura".

É o que diz um dos advogados de Palloci (Batochio), ao deixar a defesa do ex-ministro: 

“Palocci não resistiu ao sofrimento psicológico que lhe foi imposto na Guantánamo meridional” (José Roberto Batochio).

Imprensa ou a Privatização da função jurisdicional
Importante a abordagem, onde o autor salienta o fato de que na Lava Jato está ocorrendo “Uma privatização ad hoc da função jurisdicional”. Leia

Análise
Paulo Henrique Amorim  diante do dinheiro não reinvestido da Globo  assegura, para futuro próximo, a venda. São 5 bilhões da empresa para os sócios (os filhos de Roberto Mahrinho).