domingo, 2 de abril de 2017

Rupturas


Os dados do cotidiano nesta terra brasilis – reflexos da crise no costado do povão – aliados aos de pesquisas de opinião não demonstram saída alguma para o desastre que aí está. A desculpa – que somente parece verdade no telejornalismo capitaneado pela Globo – de que a economia começa a deslanchar, ainda que lentamente, não encontra apoio na realidade (assista a Família Dinossauro, no fim desta artigo). 

Afinal, desemprego e renda despencando ladeira abaixo e o desmonte do estado e a entrega do patrimônio pátrio na bacia das almas, em nada sinaliza para o mínimo resquício de veracidade a tal afirmação oficial, desmentida, inclusive, pelo próprio governo ao anunciar um número para o PIB de 2017 menor do que o esperado e por ele anunciado (0,5% em vez de 1,%).
Já registramos nesse espaço, em mais de uma oportunidade, que somente um crescimento médio de 7% a 8% nos próximos sete/oito anos poderia alimentar a melhora da economia diante dos quase 8% nos últimos dois anos.
A queda contínua do emprego, com desempregados já somando 13,2% da população ativa, mais encerramento de atividades no quesito serviços e indústria não contribui por mais empedernido seja o otimismo global. Apenas para ilustrar: cerca 1300 concessionárias de veículos cerraram as portas, em torno de 900 somente em São Paulo. Na cadeia produtiva autopeças, serviços, balança comercial etc.
Na seara política o desastre do estamento vigente mais se aprofunda. Espoucam denúncias a cada minuto e se não fora o apoio midiático mais estaria à deriva. O respaldo politico-administrativo, portanto, não seduz a classe política tradicional a manter apoio a quem a destrói. Tanto que já se fala no desembarque de Renan Calheiros do bloco. Isso para usar um nome simbólico, uma vez que – em nível de base parlamentar – o ‘meu pirão primeiro’ demonstra fissuras não de hoje, mas de ontem, já nessa legislatura.
Daí porque, diante do PMDB rachando resta ao (des)governo o PSDB como tábua de salvação. 

Ocorre que o tucanato embarcou imaginando sair-se no retrato da sucessão como capitão de longo curso. E certamente começa a perceber o rombo no casco do navio que ajudou a construir.
O interinato – há quem o diga – já revolucionou a Física: pesa mais que chumbo para os 'aliados'.
Por outro lado, os números em torno de Lula – nome indeglutível para a classe dominante e partidos que a representam – sinalizam para um futuro inteiramente distinto do planejado. Ainda que produzam filme contra o ex-presidente, que o prendam, que o enforquem, sua liderança é inconteste. E liderança inconteste é aquela capaz de indicar com o dedo um nome e o eleitor seguir a orientação. 
A saída já o dissemos em outro instante: a ruptura institucional – mais uma – para inviabilizar um governo trabalhista e suas políticas de Estado incompatíveis com o status quo da aristocracia escravocrata nacional. 

Para tanto, pelo menos duas saídas: prorrogação do atual mandato ou implantação do parlamentarismo.
Muito viável a prorrogação de mandato, inclusive porque há quem sonhe com eleição/nomeação. Tanto que permanece a espada de Dâmocles sobre o mandato tampão do interino.
Na esteira do sacrifício pela pátria FHC, Gilmar Mendes. Ou qualquer outro tucano. Afinal, ninguém melhor que tucano para acabar de entregar o país.

Caso o leitor afirme que o país não mais tolera ruptura cabe lembra-lo de que no Brasil não mais se usa a palavra no singular, tantas as ocorridas. Mais uma  é... apenas mais uma!

Modelo
Como o Paraguai tem sido exemplo para o Brasil – o mesmo método golpista contra Lugo foi utilizado aqui – a reeleição por lá aprovada será dignificante exemplo para essa terra brasilis. Quando nada uma prorrogação de mandato.
Por lá para alcançarem o intento imediato destituíram o presidente do Senado, mudaram o quórum de 2/3 para maioria simples e aprovaram o que queriam (reeleição) a portas fechadas.
O povo incendiou o Congresso. Coisa que nunca acontecerá no Brasil.

Para análise
Na Venezuela não é tanto o que propagam, como registra Jair Ribeiro no GGN. 

Além do mesmo, idêntica técnica, para igual nível de classe dominante. O resto é o controle

Bem ilustrado por George Carlin em didático humor.

                     

Tam-tam-tam-tam!
A condenação de Eduardo Cunha, por Moro, a 15 anos, embute outra vertente, não palpável pelo leitor comum: a condenação de Lula.

A ‘imparcialidade’ morina em fase de exaltação abre a avenida. Ninguém está acima da lei – o filme. Lula entre eles... especial e fundamentalmente ele.

Detalhe: provas sobejam contra Eduardo Cunha. Nenhuma contra Lula. Mas, o domínio do fato e as convicções estão aí para quê?

Não vem ao caso
Denúncias contra Aécio Neves não mais causam espécie. De estranhar tão só a passividade como tratado pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot (que já deixou prescrever os crimes cometidos por Aécio em 1998) – como já o fora por Roberto Gurgel e o juiz Sérgio Moro, que dispensou a informação de Yousseff de que Aécio recebia entre US$ 100 e 120 mil mensais oriundos do esquema de Furnas (lembra o leitor da famosa lista?).

Desta vez outros R$ 70 milhões, da Odebrecht. Só ele.

Nestor Cerveró – também depondo para o juiz Sérgio Moro – disse que uma propina de US$ 100 milhões para o PSDB, entre 2001 e 2002 (governo tucano de FHC), oriundos da compra, pela Petrobras, de uma petrolífera argentina.

O ínclito José Serra, por sua vez, recebia propina, também, para uso pessoal. Dá para entender porque Paulo Henrique Amorim ‘acha’ que José Serra é um dos homens mais ricos do Brasil.

Mas os olhos contra a bandalha somente quando envolve petistas. 

Concessionárias
Cerrando as portas, em torno de 1300 concessionárias de automóveis, das quais 900 somente em São Paulo.

Desemprego
Atinge 13,5 milhões de trabalhadores, alcançando 13,2% da população ativa.

Almoço grátis
Citibank recomendando o Brasil e orientando em torno de nossa economia.
Nunca houve almoço grátis. E não o seria agora.

Dois detalhes
A partir do portal da Procuradoria-Geral do Ministério da Fazenda a informação de que foram recuperados R$ 22 bilhões em crédito previdenciários. E mais: que “O estoque da dívida ativa previdenciária atingiu o montante de R$ 432,9 bilhões em janeiro de 2017 e continua crescendo a um ritmo de aproximadamente 15% ao ano”.

Dois detalhes nos ficaram da matéria. Ambos importantes, sem dúvida alguma.

O primeiro: de que o tal déficit da Previdência não existiria se a execução da dívida ativa fosse mais efetiva. No entanto, compreendemos, porque vemos que tal não acontece a contento por uma razão simplérrima: não é o povão quem deve. 

O segundo, lá no final da matéria, que reflete a síndrome do dedurismo como instrumento de salvação nacional: “Até meados de 2017, a PGFN contará com um canal de denúncias, que permitirá ao cidadão apontar o patrimônio de devedores, muitas vezes oculto ardilosamente por mecanismos fraudulentos. Além de envolver toda a sociedade no combate à corrupção e à sonegação fiscal, o canal de denúncias será mais um aliado na recuperação dos créditos da União”.

Para não perder o mote e a ironia não custa indagar: precisa a PGFN de dedo-duro para descobrir patrimônio escondido (comumente em paraísos fiscais)? Bastaria a Polícia Federal deixar de investigar pedalinho e barco de lata em Atibaia e dono de apartamento que a ele não pertence e partir pra cima da turma graúda. 

Quando começou
Claro que não podemos afirmar que tal não tenha ocorrido, mas desconhecemos um trabalho acadêmico que analise em profundida – incluindo as razóes históricas em que acontece – de a insegurança pública caminhar passo a passo e proporcionalmente com o sucesso da segurança privada. Caso algum leitor souber de sua existência ou mesmo o tenha lido aceitamos a informação.

Em nosso romance (Amendoeiras de Outono – Via Litterarum) a personagem jagunça lamenta a escassez de trabalho diante de uma ‘nova’ concorrência: de alguns profissionais oriundos de órgãos de segurança estatal praticando desmandos na vida privada.

Não carece perguntar o porquê. Afinal, a ditadura civil/militar se foi mas deixou essa conquista, bem analisada por Ciro de Barros e Iuri Barcelos no Agência Pública. 

Prêmio
A arrumação de Marcelo Odebrecht em depoimento ao TSE – de que o interino tornado presidente não estava na hora do acerto final – gera na rede uma certeza: está garantindo participação naquela “ponte para o futuro”.

Caridade médica
Para o Programa Mais Médicos no interinato a coisa está nesse viés: trabalhar e não receber. E não é uma questão de dias de atraso. Os que ingressaram no fevereiro – brasileiros todos – estão sem ver a cor do dinheiro até agora.

Presuma-se que seja decorrente da burocracia. Caso contrário o programa passa a ser Programa Caridade Médica.

Não esquenta
A análise de Wilson Ferreira no GGN, observando o interesse, inclusive do interinato, em fazer com que todos tenham acesso a TV digital (utilizando, inclusive, o Bolsa Família) levou-o a extrair do episódio 42, terceira temporada (O Casamento de Roy), esta pérola: 

“Não esquenta, o Governo nunca deixaria isso acontecer... a televisão é uma ferramenta essencial para manter as massas empobrecidas distraídas e confiantes”.

Qualquer semelhança com esta terra brasilis e o noticiário da Globo... tudo a ver.

                    

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