domingo, 5 de março de 2017

Entre dois países

Dois instantes de Bahia
Para os que conhecem Salvador há pelo menos 50/60 anos, observando-a em todos os seus planos, podemos registrar detalhes dos limites de sua mobilidade urbana em tempos distintos. Do bonde aos ônibus no Terminal da Praça da Sé (que ocupou a área demolida da Sé Primacial, daí o nome) como fim de linha da malha de transportes da Capital, naquele entorno onde se concentravam Sede do Governo (Palácio Rio Branco), Prefeitura (Palácio Thomé de Souza, hoje Câmara Municipal), Assembleia Legislativa, ocupando alguns andares do Edifício Ranulfo Oliveira, sede da Associação Bahiana de Imprensa (a partir de 1960), na Ajuda, em frente ao oitão da antiga sede do Vitória (Ed. Themis) e ao lado da loja A Primavera, esquina da Rua Guedes de Brito com a Sé.

O traçado urbano viário de então dependia pura e simplesmente do que existia desde Tomé de Souza e os trajetos se concentravam ou se espalhavam a partir da expansão de uma cidade que já abrigava cerca de 500/600 mil habitantes.

Hoje a cosmopolita Salvador, destruída em torno de projeto urbanístico com o atropelamento populacional advindo da instalação do Centro Industrial de Aratu-CIA (idealizado por Rômulo Almeida e começado, com a busca por investidores estadunidenses, ao tempo de Lomanto Júnior governador e formalmente fundado em 1967, Luis Viana Filho no governo) e do Polo Petroquímico de Camaçari-COPEC (na segunda metade dos anos 70) exigia revoluções.

Uma delas – a abertura de corredores de tráfego – se desenvolve a partir da gestão de ACM na prefeitura, nos anos 60. Vale do Canela, Bonocô, Paralela, viaduto Marta Vasconcelos para acessar o túnel Américo Simas etc. são exemplos da iniciativa, aliada ao deslocamento de órgãos da administração estadual para uma nova fronteira de expansão urbana (Centro Administrativo) que se materializará no primeiro quartel dos anos 70.

Mas, com todo o feito Salvador não encontrava uma solução para o transporte, o nó górdio para os administradores nestas últimas décadas.

Eis aí, onde entra a segunda: o metrô. Iniciado há tantos anos para um trajeto de 6 quilômetros e sem nunca funcionar. Até que o Governo do Estado o assumiu.

Em pouco mais de quatro anos estará transportando cerca de 500 mil passageiros.

Um sonho para muita gente.

Inclusive para nós, que dele nos utilizamos dia desses. Como menino extasiado.

Outros tempos
Um outro ACM, o Neto, administra Salvador. Mas quem hoje realiza revoluções no traçado viário é o Governo do Estado. Que tem Costa no nome.

ACM, o velho, fazia obras para a malha viária soteropolitana. Hoje, ACM, o Neto, põe placas para aproveitar as realizações do governador Rui Costa.

“Como ser uma boa fonte”
De boas intenções – interpretações – o Inferno está cheio. Imagine-se quando um órgão do Poder Judiciário, como o Tribunal Regional Federal da 5ª Região, anuncia um curso para que os integrantes de seu universo judiciário aprendam a “agir para atender às demandas da imprensa”, onde não faltará uma visita “à TV Globo”.

E como pérola, uma palestra ensinará Suas Excelências a “como ser uma boa fonte”.

Restada tão somente a ironia, ficamos com Fernando Brito, autor da informação aqui trazida, no Tijolaço, de onde resgatamos a foto abaixo: Coisa de quem quer ser ‘estrela global’, porque os salários já são de show-business.

De nossa parte, aquela pulga na orelha com o tal aprender a ser boa fonte, que nos cheira mais a vazamento.

Coisa muito bem desenvolvida por um certo juiz de uma certa Vara Federal, de um certo lugar chamado Curitiba.

Onde nada é ficção.

O retorno está explicado
Dentre muitas outras ações do parlamentar José Serra a serviço do entreguismo pleno a Base Alcântara deve estar em primeiro plano. 

Sonho antigo dos Estados Unidos no final do período de FHC (chegaram a minutar o acordo) esteve quase a se concretizar – nos termos por eles propostos – obstado pela eleição de Lula que dele declinou, com histórico parecer de Waldir Pires, então deputado federal, que veio a se tornar Ministro da Defesa.

Outros tempos... presidentes
Sebastião Néry registra em seu Folclore Político o convite de Getúlio Vargas a Heron Domingues – marca do Repórter Esso – para que fosse ao Catete.

Heron ouviu de Getúlio incentivo para que mantivesse o noticiário dos preços do café e do cacau. Disse Getúlio que pressões havia para que aquelas informações não fossem veiculadas pela Rádio Nacional (rádio do governo). 

A inconveniência – disse Getúlio – residia no fato de que os especuladores lá de fora, através dos daqui, não tinham como sonegar os preços reais porque os produtores já sabiam a cotação na Bolsa de Nova York através do Repórter Esso. 

E mais disse Getúlio: que prosseguisse, porque estava prestando um grande serviço ao Brasil.

Outros tempos... de governo nacionalista.

Vazamentos privilegiados
Os vazamentos oriundos do universo curitibano agora encontram outro destino: não mais a imprensa ‘amiga’, mas os próprios delatados.

O privilegiadíssimos são aqueles encastelados no governo do interino tornado presidente.

Cada vez mais atual
Dos registros de Azenha, no Viomundo, um artigo publicado em janeiro último. 
Os fatos relatados são conhecidos. 

Mas não custa relembrá-los. Inclusive em razão das contradições neles postos no instante em que somente dúvidas pairam sobre tudo.

Não fosse a lapidar conclusão: “Este é o pais ao qual servem Temer, o Congresso e o STF”.

Jabuticaba
Fruta que dizem existir só no Brasil metaforiza aquilo que somente aqui acontece. A delação premiada – uma delas – questionada no mundo jurídico, voltada está – lá fora – para atender ao criminoso condenado que resolve abrir a boca. 

Aqui – na teoria de Sérgio Moro – prende-se preventivamente (por tempo indeterminado) para obter a delação. 

Caso alguém chame isso de tortura psicológica está certo. Mas há quem veja nisso uma maravilha, diante da incompetência de investigações policiais.

Mas não reside aí a gravidade do que ocorre nesta terra brasilis

Imagine o leitor uma pessoa condenada por lesar (roubar) o país em milhões de reais ou dólares a 121 anos e outra a 128. O segundo, Paulo Roberto Costa, cumpriu cinco meses de reclusão; Alberto Yousseff, o primeiro, está em regime fechado domiciliar (em casa) depois de cumprir dois anos e oito meses.

O fato estranha, lá fora. A matéria originária é de Gil Alessi para o espanhol El Pais.

Aniversário
Da condução coercitiva e da tentativa de sequestro do ex-presidente Lula, em março de 2016. O sequestro foi frustrado graças à ação do Coronel da Aeronáutica e Comandante da segurança de Congonhas. 

Fomos dos poucos que repercutiram o sequestro, registrando os fatos em 13 de março de 2016. Lembre aqui, em Abortamento 

"Cortesia dos covardes"
Nenhuma mísera linha na imprensa sobre a conclusão dos analistas de que nunca houve as tais pedaladas fiscais, motivo para afastar Dilma Roussef. Muito menos um mea culpa dos envolvidos.

Sempre oportuno ler o ex-Ministro da Justiça, Eugênio Aragão, é uma das poucas vozes a justificar uma leitura. Denuncia as mazelas por que passa este país aqui

Distante não é a hipocrisia
A CPMF – heróica iniciativa do então Ministro da Saúde, Adib Jatene, no governo Itamar Franco, para ampliar recursos para a Saúde – tornou-se cavalo de batalha no período petista. No primeiro round Lula perdeu a batalha; foi extinta. No segundo, Dilma Roussef sucumbiu à possibilidade de seu retorno.

Dos tributos criados na história brasileira foi dos mais – se não o mais – democráticos. Atingia a todos. Isso o que incomodou: os grandes manipuladores do mercado dependendo de manuseio de contas-correntes bancárias estavam (não escapavam) sujeitos à alíquota.

Como solução para reduzir o déficit fiscal somente serviu ao tempo de FHC. Quando Lula dela dependeu foi massacrado (em que pese Mercadante defendendo-a no Senado, o que não quer dizer muita coisa!).

Já falam no retorno da CPMF. Que será aprovada. É que daquela turma do "Xô CPMF", liderada pelos tucanos já há quem lidere a luta pelo retorno.

Entre os críticos ácidos de então o hoje defensor Luiz Carlos Hauly (tucano) relator da reforma tributária já defende ardorosamente a CPMF como substituta do IOF.

No fim ficarão os dois.

Insensatez
Em Porto Alegre catador de papel e papelão não pode mais usar o tradicional carrinho. Extingue-se, assim, a profissão na capital gaúcha. A não ser – a ironia se impõe  que o faça dirigindo uma Mercedes. 

Projeto de um vereador do PMDB aprovado e sancionado, levado ao extremo: ajudar os miseráveis a ficarem mais miseráveis.

Insensatez! Tão somente!

Não segurou
Noblat se negou a responder à Interpelação Judicial promovida por Lula, diante da afirmação de que o ex-presidente seria condenado – mas não preso – no início deste ano.

Considerando o acesso privilegiado de muitos da imprensa – ou de uma peculiar imprensa – a presunção é de que a tal ‘informação’ saíra da fonte primeva: a vara federal do juiz Sérgio Moro. Ou – especulam, ainda – do próprio Sérgio Moro.

Um dos dois falhou: ou Moro ou o próprio Noblat.

Milagre
Terceiro aniversário da Lava Jato. Dentre as proezas esfacelou o PT, a indústria da construção civil brasileira, desmoralizou institutos jurídicos.

A proeza maior, no entanto: nenhum tucano indiciado ou preso.

Como dizem na rede: o milagre de Curitiba.

Piada
A ‘sempre’ bem informada Folha de São Paulo noticia a ação investigativa, sob comando de Alexandre Moraes, envolvendo 33 investigadores para localizar o hacker que invadira a privacidade da mulher do interino tornado presidente.

Não sabemos se a eficiente investigação – que levou 20 dias investigando – traduziu incompetência x competência do hacker ou demorou para valorizar o Ministro da Justiça.

De uma forma ou de outra, ainda que tudo cheire a uma piada mal contada – como o atual governo – Moraes foi indicado para o STF.

Mais entrega
Na esteira do sucesso da retomada do crescimento alienamos, em favor do capital estrangeiro, mais um pedaço de nossa maior reserva, o pré-sal. 

Em favor de franceses.

Na bacia das almas parte do gás da Bahia.

Pré-sal
Em menos de 10 anos de sua descoberta já alcança 47% da produção de petróleo no Brasil.

1,6 milhão de barris/dia.

O Campo de Lula é a maior fonte de produção. Isso mata!


Sucesso
O Carnaval, com tanto improviso e autonomia, dificilmente pode ser nele encontrado algo de sua natureza (blocos, músicas, desfiles etc.) que lhe assegure unanimidade.

Neste de 2017, no entanto, uma unanimidade: o Fora temer.

A ponto de a Globo não ter como evitar a repercussão dos gritos, ainda que o seu jornalismo se mantivesse mudo diante do protesto nacional.

No fundo fez jogo duplo: nada através dos repórteres de rua, mas através do áudio (liberado).

Tom Zé não perdeu o mote.

             

O contraponto
E para não dizer que não houve registro musical revelando o que representa o interino tornado presidente eis uma pérola: um samba-enredo da Acadêmicos Unidos do Jaburu, do Rio de Janeiro, para o carnaval de 2017.

            

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