domingo, 29 de janeiro de 2017

Marisa Letícia

Lembranças
A mulher simples, desprovida das vaidades inerentes ao poder – próprias ou adquiridas – nunca se pôs a exibir-se. Já registramos neste espaço (Dois tempos) o ouvido por um amigo, de integrante do corpo de funcionários do Palácio do Alvorada, de sua busca – na feira-livre – por ingredientes para uma feijoada com que queria brindar Lula no primeiro dia de assunção do poder. 

Somente isso – pela simbologia – justificaria encômios vários se fora outras as primeiras damas.

Nunca buscou os holofotes, além daquele imposto pelos cerimoniais: estar ao lado do marido, Chefe de Estado, pela circunstância de ser Primeira Dama. Nada mais que isso. 

Muito menos aceitou convite para estrelar ovos em programas de televisão, para falar de intimidades do casal, dar opinião sobre esta ou aquela vestimenta etc. etc..

Debochada e ridicularizada enquanto o marido exercia o poder (como lembra Hildergard Angel, disponibilizada no Conversa Afiada) manteve-se indiferente, como lhe cabia em grandeza existir.

Hoje é a mulher do ladrão e coautora de crimes vários, cúmplice do marido, que sofreu um acidente vascular cerebral com hemorragia, o que torna grave o seu estado de saúde.

No entanto, caso dispusesse de condições de ler jornais e internet em vez de ver registrados pedidos de recuperação para sua saúde leria crueldades que mostram – e muito bem explicam – a razão por que este país passa pelo que passa: o nível da gente que defende os instalados no poder, gente como eles, que não espelha o mínimo de valores espirituais, morais e éticos. 

Na imprensa medíocre apenas o registro e na rede não lhe falta quem a chame de “vaca” ainda que seu estado de saúde exigisse pelo menos o silêncio, em respeito aos que podem estar no estágio de moribundos.

Nenhum(a) dos(as) que se encontra(m) em estesia orgástica com seu estado de saúde e a escarnecem como abutres que se dizem humanos teria(am) a coragem de assumir o papel que ela assumiu em plena ditadura, de resistência e vanguarda no enfrentamento ao regime por aquele(as) aplaudido.

Certamente – e não o registramos por bajulação – muitas primeiras e ex-primeiras damas oriundas daquela ‘elite branca’ a que se refere Cláudio Lembo seriam humanamente ainda mais irreconhecíveis se tivessem exercido o poder que logrou chegar a D. Marisa Letícia. Principiando por trabalhar em fábrica aos 13 anos.

Do incômodo em ver doméstica na poltrona ao lado em aviões e em gôndolas de supermercados a inveja (esse pecado capital) incomoda aos que não chegaram (e nunca chegarão) a viver o que D. Marisa Letícia viveu.

E para isso não existe golpe que resolva.

Entre a faca e a espada
O Partido dos Trabalhadores se não saiu esfacelado das eleições de 2016 foi nelas profundamente abalado. E continua o alvo de permanentes ataques da mídia, acusado de tudo que não preste no Brasil desde o descobrimento. 

Paga caro a falta de articulação política que resultou na eleição de Eduardo Cunha para presidir a Câmara, mérito incontestável de Mercadante, aquela parte da elite petista de São Paulo. Não precisa repetir que tudo começou com Eduardo Cunha, presidindo a Câmara com uma mesa composta e controlada por ele.

O não alinhamento – correto – com o PMDB de Cunha implicaria – diante da flagrante impossibilidade de uma candidatura própria obter vitória – de compor com outros partidos, na época até o mesmo com o PSB que ensaiava deixar o barco do governo.

Ficou sem presidir comissões importantes e sem um mísero cargo na Mesa Diretora “de Cunha”. Perdeu inteiramente o controle, restando tão só o microfone para espernear.

Hoje não dispõe de possibilidade de enfrentar eleição em qualquer das casas do Congresso. Sua assembleia nacional conseguiu fazer vencer a proposta de abrir espaço para composições em chapas presididas pelo DEM, na Câmara, e pelo PMDB, no Senado.

O oxigênio buscado reside em participar das correspondentes mesas e presidir as comissões que lhe sejam oferecidas. Está naquela fase de mendigo, que não tem como escolher o que lhe seja dado, mesmo que peixe quando só come carne.

Para tanto – aprender com o látego nas costas – compor com os grandes artífices de um golpe que o afastou do poder, na dura lição de votar com o DEM e com o PMDB, seus carrascos.

Essa a melhor (e humilhante) saída. Afinal, pensar nas promessas e compromissos com o povo nada representam. Mesmo porque o povo preferiu o noticiário às ações que o beneficiaram nos últimos, tanto que não reelegeram nem Haddad em São Paulo.

Na discussão envolvendo uma postura purista e a pragmática (posta em prática nos últimos anos) provável que vençam a faca e a espada.

Legado em discussão
Nos limites das informações de que dispomos nunca entendemos algumas iniciativas de Teori Zavasck. Está posto em Necrológio I

Mas oferecemos o contraponto para análise do leitor, no expressado por Eugênio Aragão, no Blog de Marcelo Auler, reproduzido por PHA e Breno Tardelli, no Justificando. 

Tramando
Por mais inocente a conversa entre as três figuras, no imediato do velório de Teori Zavasck – incluindo aquele Gilmar Mendes que foi a tiracolo com o interino tornado presidente a Portugal, para enterrar Mário Soares e lá não compareceu – há cheiro de interesses sendo discutidos. Não lhes cabe o benefício da dúvida, porque não dissimulam suas vontades e sonhos.

“Um encontro casual entre amigos há mais de trinta anos” com certeza não foi. A amizade, até; a casualidade, nunca.

Basta ver Gilmar Mendes portando um livro quando lá chegou, mostrada na televisão.

Imagine o leitor Gilmar Mendes assumindo o controle sob as delações que estavam sob Teori Zavascki, já que ele nunca se dará por impedido emr azão de amizade com as partes interessadas.

                        

Esprit du corps
Construindo o torreão, alicerçado no corporativismo. Assim a AJUFE (associação deles) pretende um deles para ministro do STF.

Na linha do idiot servant – atribuído por Belluzzo a Moro – a fila caminha para a mediocridade. 

Qual o notório saber jurídico de suas excelências recomendadas? Apenas passar no concurso.

A destruição do país registrada a partir da destruição de sua indústria e da sua construção civil.

Carlos Válder
O tributarista e ex-professor da UESC, Carlos Válder do Nascimento, nunca imaginou que viesse a ser lembrado no imbróglio em que se encontra o país. 

Mas aconteceu.

Considerando as várias citações do nome de Ives Gandra Martins Filho para a vaga de Teori Zavasck no STF, Paulo Henrique Amorim futucou um artigo de Gandra.

‘...o repórter André Guilherme Vieira revela que a "Lava Jato teme por apurações no MP paulista".
MP paulista, como se sabe, é aquele que apurou exemplarmente a cratera do metrô do Cerra e troca Engels por Hegel.
Segundo o PiG Cheiroso, "receio é que fatos revelados pela Odebrecht não sejam aprofundados por promotores de Justiça".
Que fatos seriam esses?
O PiG cheiroso responde: a Linha-15-Prata do monotrilho de São Paulo, obras de rodovias, saneamento, além da formação de cartel e fraude em licitações do metrô e em trens de São Paulo.’

De nossa parte afirmamos: tal desconfiança pode resultar em briga judicial. 

Onde o povo paga as custas.

Foragido
Anunciam-no foragido. No entanto simplesmente viajou para o exterior no imediato da operação que o prenderia. 

Mais cabe à imprensa sedenta perguntar a Polícia Federal – presente nos aeroportos –a razão por que o deixou viajar.

Sem falar também porque a operação não alcança Pedro Malan e Tourinho, conselheiros de Eike Batista, todos ex-ministros de FHC. 

À época teria havido manipulação de mercado e falsificação de documentos envolvendo as negociatas de Eike.

Acidentes retornando
Dória não é o culpado, e sim quem o legitimou na decisão judicial para aumentar a velocidade em avenidas paulistanas, o que já gerou acidentes e mortes.

Como explicar a conduta desses agentes da persecução? Claro que existem interesses pessoais e políticos na perseguição, vaidades, ódios, rancores e frustrações. Mas esses agentes não deixam de ser a representação da violência atávica das elites brasileiras contra todo o sentido da construção ética de uma sociedade justa e igual e de tudo o que significa luta nacional e popular por direitos. Como serviçais das elites, esses agentes não deixam de se sentirem donos do Estado, donos dos instrumentos da violência concentrada, portadores de uma imemorial consciência dos privilégios patrimonialistas.

Direitos, justiça e igualdade e a constituição ética do Brasil e da sociedade, portanto, são ameaças aos interesses, ao poder e ao mando das elites e de seus agentes. De tempos em tempos promovem uma degola das conquistas alcançadas através das lutas. É isto que se está vendo neste momento com o governo Temer. Nestes surtos violentos e destrutivos da agregação social e do sentido ético, agridem também com mais violência as representações simbólicas dessas lutas e dessa construção. Os movimentos sociais e políticos progressistas precisam compreender que quando se trata de democracia, direitos, liberdade, justiça e igualdade nunca há uma garantia definitiva. A manutenção das conquistas e sua ampliação requer lutas e mobilizações permanentes.

Antecipamos
Não sabemos a pretensão da Ciência – a teor da experiência japonesa – em criar um embrião parte humano e parte porco. Ainda sem nome o resultado do cruzamento.

A dúvida que nos abate, entre a prevalência do cérebro, é a seguinte: o do homem no porco ou o do porco no homem.

Cremos que, pela natureza humana contemporânea, presente em parcela considerável de brasileiros, prevalece o do porco no homem.

OIT
Em 2017, UM em cada TRÊS desempregados, no mundo, será brasileiro.



domingo, 22 de janeiro de 2017

Em tempo de necrológios

Necrológio I
O ministro Teori Zavasky certamente não era um falastrão como Gilmar Mendes, um deslumbrado como Luiz Fux, um menino grande assustado com o cargo, como Dias Toffoli, uma pluma em tempestade como Roberto Barroso, um dependente da ‘literatura jurídica’, como Rosa Webber, um aprendiz do poder, como Cármen Lúcia, um preocupado com o que vão pensar dele, como Edson Fachin etc. etc.

Mas, por trás de sua sisudez no exercício da função no STF deixou-nos a desejar e – sem arrependimento algum – podemos afirmar que sua omissão em enfrentar os absurdos que lhe chegaram às mãos em razão do impeachment muito do que ora acontece no país pode ser tributado à sua posição de perder o bonde da história.

Legitimou o ato indecente, imoral e ilegal de Sérgio Moro, ao não desconsiderar as provas obtidas ilegalmente, apesar de haver espinafrado o catão paranaense e os vazamentos de delações.

O mesmo Teori que determinou a prisão do então senador Delcídio do Amaral. Não por aquilo que representa Delcídio, mas pelas violações à lei cometidas através da ordem de prisão por ele exarada.

Nenhuma dúvida há da seriedade com que Teori exerceu a função. No entanto – a teor da doutrina dos frutos da árvore envenenada – era mais um membro do pior conjunto de composição do STF em sua história. Não pelo conhecimento jurídico (em que pese até aí haver limitados) mas pela posição escancaradamente política de alguns e – mais que isso – a submissão à mídia. 

Não bastasse declarações incompatíveis como algumas do próprio Barroso, que chegou a legitimar, em declarações à imprensa, procedimento em detrimento do direito material.

Lágrimas de crocodilo
Certos presentes no velório de Teori Zavasck em muito se assemelham ao velho coronel nordestino que mandava matar e comparecia ao velório e ao enterro para conferir se o indigitado estava morto e enterrado mesmo.

No caso presente seria leviandade afirmar o mando, mas todos sabemos que sob as mãos de Teori se encontrava o caminho de leva-los (tucanos e peemedebistas) a um procedimento criminal.

Decifra-me
A indagação que acomete brasileiros de todos os quadrantes é se a morte de Teori Zavaski afeta as apurações que estavam sob sua responsabilidade.

Quando nada, afirme-se – em termos otimistas – o retardamento na conclusão (se houver) da homologação das delações.

Certamente, uma festa para tucanos e peemedebistas. Por razoável tempo, se não definitivamente, esquecidos nos noticiários policiais.

No fundo uma incógnita para a deusa hera e sua Esfinge de Tebas.

Devoro-te
Politicamente ruim para Lula e o PT. Que ficarão sem o contraponto. Devorados que já estão.

Afinal, presos mesmos somente petistas. Com o risco de – sob o domínio de convicções fáticas – o próprio Lula ser condenado (e preso). 

Ainda que o mundo se sinta estarrecido com o que andam fazendo com ele aqui dentro.

Porque lá fora sempre será bem recebido. E aplaudido.

Tudo se acertando 
Ainda que acidente, puramente... não custa duvidar. Mormente para quem lembra daquela diálogo entre Machado e Romero Jucá, em março de 2016, especulando saídas para o desenrolar da Lava Jato depois de arrebentar o PT:

Machado: Um caminho é buscar alguém que tem relação com o Teori [Zavadski, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém.

Jucá: Não tem. É um cara fechado. Foi ela [Dilma] que botou... um cara burocrata, ex-ministro do STJ...

Tiraram a Dilma, levaram  interino tornado presidente ao Planalto, entregaram Eduardo Cunha, blindaram Renan Calheiros (Gilmar Mendes) e – coincidências, que sejam! – pararam o Teori Zavascki.

Como se diz no sertão nordestino: tudo certinho como boca de bode.

Bruta sorte! 
No tema coincidência a manifesta vantagem de uma gama de ladrões (já por demais conhecidos e nominados) com qualquer das duas hipóteses:  manutenção do processo da LJ nas mãos do substituto, indicado pelo interino tornado presidente – até agora citado 43 nas delações da Odebrecht – ou por sorteio dentro da turma ou de todos os integrantes do STF.

Uma conclusão se encontra flagrante: essa turma (de ladrões) tem uma bruta sorte!

Pequena fábula
Havia um país na terra distante onde uma rainha governava. Quando começou a prender ladrões os ladrões a derrubaram e puseram um deles para ser rei. 

Então havia um julgamento onde o ladrão, antes de ser rei, estava tendo seus furtos apurados e em risco de ser processado e condenado.

Um dia o juiz morreu e cabia ao rei escolher o juiz para o lugar do que morreu. 

Assim o rei nomeou um amigo seu para julgar os seus crimes. O seu ministro, afamado por suas ligações com criminosos.

A historinha está assim mal escrita, os fatos confusos, personagens idem. 

Como o andar das coisas naquele reino.

Barroso
O Ministro Roberto Barroso – pluma em tempestade – andou falando o que não lhe competia: deveríamos repensar em torno do atual sistema de universidade pública para torna-lo financiado pela iniciativa privada.

Necrológio II
Tamanha a desmoralização que justifica ser expressa como necrológio o que representa a credibilidade do país.

Prestígio nem mais se fala. Nenhuma referência ao Brasil no encerramento do encontro em Davos.

Vendendo
Rodrigo Janot – não sabemos com que base legal ou institucional – compareceu a Davos para vender o Brasil como pátria de tranquilidade e segurança para investidores.

Cabe a indagação: quem pagou as despesas?

Vendendo
A valiosa atuação de Janot em Davos pode estar vinculada ao projeto de seu terceiro mandato.

Especialmente para quem já declarou que Lula é ladrão.

Considerando os sistemas empresarial e financeiro transnacional o retorno de Lula é inconveniente.

Assim – depois da instalação de uma equipe a seu favor (com rabo preso) –(para eles) evitar o retorno de Lula pode encontrar forte apoio no novo mandato para Janot.

Depende da Globo
Através de seu porta-voz, Merval Pereira, Sérgio Moro tem tudo para se tornar ministro do STF. 

Foi dada a saída para o jogo, apitado pela platinada. Basta a Globo ‘sugerir’.

Agrada ao povão que o endeusa e põe lá quem – com certeza – apagará qualquer vestígio da Globo nas picaretagens, como já o fez quando mandou soltar os presos envolvidos no ‘Panamá papers’, com ligações com os Marinho e aquele barraco em Paraty.

E – o mais importante – garantirá a impunidade do PSDB.

Por outro lado, é o novo charme global, como revela Romulus em montagem. Tanto que até vestiram a Globeleza.

Militar alerta
Transformar as forças armadas em “capitão do mato” desperta questionamentos vários, como o do Tenente Coronel da reserva do Exército Brasileiro, João Luiz Mena Barreto.

Mais Médicos em extinção
O cinismo do atual Ministro da (não)Saúde beira o deboche explicando o "menos médicos".

Tirando o sofá da sala
O interino tornado presidente já provou à sorrelfa suas absolutas incompetência e limitações como gestor. Flagrado quer tirar o sofá da sala para evitar a traição.

Mudar o nome do PAC – sucesso absoluto em projetos de infraestrutura dos governos petistas – para assumi-los como obra sua. 

Através do novo nome.

Não esqueça
Este espaço auxilia o caro leitor a não esquecer de coisas que são ‘esquecidas’ por quem de direito deveria apurá-las. 

Aproveitando a deixa do deputado Paulo Pimenta, que voltou a cobrar, na terça 17, do Procurador-Geral da República Rodrigo Janot (que, segundo o ex-ministro Eugênio Aragão, afirmou peremptoriamente que Lula é corrupto) sobre o andamento das denúncias, sobejamente documentadas, contra a atuação das empresas Brasif e Vaincre LCC, ligadas a Mossack Fonseca, responsável por fatos vinculados aos “Panama papers”.

A primeira, beneficiada com concessões em aeroportos brasileiros pelo governo FHC está envolvida como meio de transferência de recursos de FHC para Mírian Dutra e a segunda, com aquela mansão da Globo em Paraty, que pertenceria aos Marinho da Globo.

A matéria ora disponibilizada aqui lembra que o juiz Sérgio Moro – docemente alcunhado de idiot savant por Luiz Gonzaga Belluzzo – cuidou de libertar os responsáveis pela Mossack flagrados destruindo provas.

Lançamos o tema neste ‘Não esqueça’ para requentar o que este blog já denunciou em páginas passadas.

Ainda é pouco
Detentores de vazamentos falam em delações da Odebrecht que alcançariam idos de 2000. Não cremos que nada vá adiante, dependendo de Sérgio Moro. 

Afinal, oportunidade teve ele de, pelo menos, determinar apuração da denúncia de Yousseff em depoimento, de que Aécio Neves recebia do esquema de Janene/Furnas entre 100 e 120 mil dólares mensais, quando o esquema do PSDB, em Minas Gerais, era operado pela irmã, Andréa Neves (vídeo abaixo).

E nem se fale de Nestor Cerveró, que a ele disse de uma propina de 100 milhões de dólares para o PSDS na compra de uma petroleira argentina em 2002, tempo de FHC, com registrou a Carta Capital.

É dessa época o lançamento da famosa marca de Sérgio Moro: não vem ao caso.
                      

domingo, 15 de janeiro de 2017

Entre a tragicidade e a idiotia

A Norberto Bobbio a precisa observação de que percebemos "o grau de civilidade de uma sociedade pela forma como trata as crianças, os velhos e os prisioneiros", lembra Luiz Gonzaga Belluzzo em entrevista a RBA.  Posto o Brasil vigente sob essas premissas podemos afirmar que longe estamos da civilidade, caso não assumamos, de logo, o estágio de barbárie a ser brevemente alcançado. 

Afinal, congelar gastos públicos em educação e saúde por vinte anos e elevar idade para aposentadoria a 65 anos são de uma insensatez que beira os limites da loucura ou – pelo menos – internamento em hospital psiquiátrico, tal o nível intelectual dos ‘pensadores’ que aí estão, capazes de contrariar todos os técnicos mundo afora que abriram baterias contra os absurdos em curso.

A barbaridade e selvageria levadas ao topo de projeto de país para essa gente não descura de alimentar até a segregação como meio de auferimento de lucros, tornando a ampliação, administração e manutenção de presídios em objeto de ganhos para a iniciativa privada.

O estágio a que estamos chegando – com apoio propagandístico da mídia – dispensa buscar as razões por que existe a delinquência e a criminalidade. Isolar e matar o semelhante torna-se tônica de um discurso primitivo. Não sensibiliza parcela considerável da sociedade (alienada) o fato de que entre presos degolados em Roraima estavam seis que se encontravam em prisão provisória (há apenas um mês, um deles, de 25 anos, primário, pai de dois filhos, levado à cela por uma juíza que entendeu – convicção é assim – que traria riscos à sociedade permanecer em liberdade).

A desumanidade vai assumindo espaços, como se natural o fosse. Afirmam os técnicos e estudiosos que a proposta (de extermínio) do interino tornado presidente para a aposentadoria exigiria trabalhar até mesmo depois de completados os 65 anos como forma de garantir integralidade de proventos e manter o mínimo de dignidade como aposentado.

Segundo o G1, como somente 0,3% dos trabalhadores com carteira assinada exercem atividade hoje a conclusão é simples: idoso não encontra trabalho. Sob esse viés a aposentadoria – caso venha a ser alcançada – será com menos dinheiro para sobreviver.

Trabalhar mais tempo ou estar preso tem vinculação com o processo educacional ofertado. Mas, aproveitando o observado por Belluzo, em relação a Sérgio Moro, na entrevista ora disponibilizada, vivemos uma cultura de idiot savant, onde convicções e achismos suplantam a realidade e a exacerbação positivista pede apenas ‘mais cadeia’ e 'menos escola'.

Na esteira da genialidade atual, para estes ‘gênios’, a escola de samba Imperatriz Leopoldinense se encontra ameaçada por uma CPI no Senado, como o deseja o senador Ronaldo Caiado, do DEM e da UDR, porque está a entender (tem ‘convicção’) que o tema “Xingu – o clamor que vem da floresta” pode ter sido financiado por grupos contrários ao agronegócio.

Haja Festival de Besteira assolando o país (obrigado Stanislaw Ponte Preta). 

Umas trágicas; outras, idiotas.

Responsável
A culpa é do povo. Esse ignorante que está solapando o país com sua irresponsável sanha consumista. Comprando feijão caro etc. etc. Esse o bla-blá-blá do Jornal Nacional na quinta 12. 

Em nenhum momento levantou – ainda que em horizonte marítimo – a mínima responsabilidade pela política econômica implantada pelo interino tornado presidente.

Transferindo a responsabilidade para o povo até mesmo criou a singular “inflação pessoal”, aquela que nasce da perdulariedade de cada um habituado a comer, recomendado a suprimir gastos, em vez de reclamar contra a política econômica que está a nos encaminhar para uma crise humanitária sem precedentes.

Só faltou o Bonner dizer – como Cid Moreira na gênese do JN, no ano de 1968  “nunca fomos tão felizes!”.

Na olimpíada global o lançamento de peso atinge, em definitivo, o cérebro do que se diz telespectador.

Que raciocina em preto e branco.

Estavam errados, sim!
Reconhecem o erro cometido. Os “cabeças de planilha” – como os denomina Luis Nassif – na pessoa do ilustre André Lara Rezende, confessam o erro de suas avaliações econômicas apreciando o câmbio e lançando a Selic como instrumento de controle inflacionário.

Depois da desgraça consumada só nos resta ler Rezende (para crer) e Nassif (para ratificar a denúncia levada a termo ainda no limiar do Plano Real).

Sem culpa alguma
Execrado e absolvido. Como absolvidos os demais alvos da operação policial que visava – em outro estágio da lawfare – atingir o PT.

Marcelo Auler traz à tona mais um caso. Emblemático o título: A imprensa que acusou cala-se na absolvição.

Com todas as letras
A ONU responsabiliza o STF pela (não)redução da população carcerária. A pancada levou a presidente do STF Cármen Lúcia a convocar os presidentes dos Tribunais de Justiça para um esforço concentrado para agilizar processos de presos.

Poderia, também, ter exigido dos juízos criminais e de execução penal das comarcas igual iniciativa.

Trágico que uma solução para a superlotação nos presídios tenha sido buscada depois do festival de degolas despertando da letargia o Judiciário. 

Muito voltado, ultimamente, para ajudar a iniciativa privada que se alimenta de presos. Tanto que legitimou o recolhimento à prisão antes de transitada em julgado a sentença condenatória.

Chegando lá
O escancaramento do escândalo envolvendo o PMDB em falcatruas através da Caixa Econômica Federal, sob a competente gestão de Geddel Vieira Lima, em parceria com Eduardo Cunha, à frente da vice-presidência da Diretoria para pessoas jurídicas, exercida em governos petistas.

Ainda que – mais uma vez – a bandidagem esteja vinculada ao PMDB não custa Lula e Dilma serem acusados por Procuradores da República com base na ‘convicção’ de que sabiam de tudo.

Finalmente!
Oh, glória! Finalmente empresas estrangeiras vão atender à demanda da Petrobras. Ainda que acusadas de corrupção, como denuncia Joaquim de Carvalho no DCM.

Licitações comandadas pelos mesmos ladrões da época de FHC.

Mais prazo
Assim trabalham. Levantam suspeitas, amparadas em ‘convicção’ (“eu acho”), não conseguem provas e vão pedindo prazo para ver se ‘descobrem’ alguma coisa. Enquanto a imprensa vai divulgando... divulgando...

Desde que Lula seja o alvo.

A fala de Lula I
" É importante a gente não ter vergonha de dizer que quer eleição direta. O (Michel) Temer (PMDB) quer ser presidente? O (José) Serra (PSDB) quer ser presidente? O (juiz de 1ª instância Sérgio) Moro quer ser presidente? Ótimo. Todo mundo que quer ser presidente tem o direito de se candidatar. O que não pode é querer ser presidente dando um Golpe, na base da canetada."

Faloooou!

A fala de Lula II
Da fala de Lula leva uma outra conclusão: pelo menos a de servir para que o Brasil deixe de ser motivo de gozação lá fora, como o posto no vídeo abaixo (legendado).

                     

Ajudando a entender
O texto do geógrafo norte-americano Brian Mier, publicado na Brazil Wire esmiúça a participação dos Estados Unidos no Brasil/2016. Aqui, no original e traduzido.

Aragão e o papel higiênico
O imperdível Eugênio Aragão:

Um julgador pegar carona com um réu a ser por ele julgado; um chefe do ministério público ir a Davos para ajudar a atrair investimentos numa economia que chama de podre, ou um ministro da justiça se esquecer de que negara meios a uma governadora para evitar um massacre, mas que agora, diz, vai dá-lo a um outro governador que faltou bater palmas para o banho de sangue no xilindró sob sua responsabilidade: tudo isso não é muito diferente do uso de papel higiênico nos dois lados. Mas quem fica com as mãos borradas somos nós que fingimos estar tudo bem.”

Mudando de plano
Estamos sepultando amigos, companheiros de música e de artes. De cantoria e de poesia. Gente que só dava alegria.

Na quarta, Aladino  ex-integrante do conjunto Os Apaches  voz encantadora do grupo, guitarra base enquanto trabalhávamos o contrabaixo e Aderbal Duarte solava e arranjava. 

Neste domingo Ramon Vane, que aqui trazemos como o Coronel de "Cacau Verde – nem tudo que reluz é ouro", de José Delmo.

A cada um nossa homenagem. A Aladino uma das músicas em que marcou uma de suas melhores interpretações no grupo, no original de Roberto Carlos; a Ramon Vane, uma foto da época em que o "Grupo de Arte Macuco" andou por Itororó, nos anos 80.

                  

domingo, 8 de janeiro de 2017

Chamem Moreira César

Ficou famoso como o “corta cabeças”. Para onde enviado retornava com execrável laurel, tantas as cabeças roladas pela degola. Enviado a campanha para massacrar Conselheiro e a gente de Canudos por lá morreu.

O que faz Moreira César neste ameno espaço? A lembrança de um passado que imaginávamos no limbo da história tornado presente a cada rebelião de presídio: cabeças cortadas. E não são cenas de Gláuber Rocha, Lucrecia Martel ou Almodóvar.

Sem cabeça, com a cabeça nas nuvens eram expressões para os desatenciosos, vagos. Alguns padecentes de alguma limitação mental não diagnosticada. Gláuber metaforizou em sua obra tudo o que se limita a cabeça (pensar, raciocinar, decidir etc.) no plano do corte da realidade, como expressando velhas estátuas gregas.

Nossos presídios abarrotados – não só pela dimensão criminosa fomentada, em muito, pelos meios de comunicação de massa, exaltando morticínios (quando oficiais) e perseguindo os três Ps que sustentam aqueles, mas pela incúria criminosa do Poder Judiciário e do Ministério Público, que mantém sob segregação milhares que lá não precisavam estar – constituem em permanente barril de pólvora com estopim aceso. Mais não se sabe porque a augusta imprensa não ‘investiga’ tais pocilgas.

Os que ali entram estão em nível de Inferno de Dante, em estágio mais profundo.

Na sanha privatista deram até de privatizar administração de presídios. Copiaram aqui o que não deu certo na corte originária (EUA).

Eis o novo espaço para 'cabeças cortadas'.

Semáforos
Quando funcionam todos respeitam, sabem que desrespeitá-lo implica em sanção. Quando não funcionam é cada um por si.

Alguma relação com o Brasil institucional de hoje é mera coincidência.

Autoridade não pode apagar semáforos. A redução de verbas para o sistema prisional, em 85%, nos últimos dois anos, anuncia uma chacina por semana. 

A única forma de serem vistos e ouvidos. 

Homo sacer
Em Roma existiu o homo sacer (Agambem dele trata em livro). Como em Esparta, onde o estrangeiro podia ser caçado, assassinado como um nada, um bicho qualquer. Em Roma como objeto sem nenhum sentido; em Esparta como experimento de aprendizado para os jovens.

Assim estão os que presos se encontram dentro dos paradigmas do sistema prisional brasileiro. 

A caminho da barbárie
Marx apontava – nos limites ofertados em seu tempo – as contradições que levariam o Capitalismo ao fim: a socialização na produção (capital e trabalho juntos produzindo) e a concentração na distribuição (o capital se apropriando do resultado da produção (riqueza).

Em estudo recente, na linha exposta por Thomas Piketti, Pete Dolack retoma o tema do aumento da desigualdade como espada mortal para o sistema.

Sobrando
Caso não construamos escolas agora daqui a 20 anos não haverá dinheiro para construir os presídios que se tornarão necessários. Uma profecia previsível de Darcy Ribeiro no início dos anos 80.

A sequência de desmandos – que vão da inoperância do Poder Executivo a do Poder Judiciário, que aliado ao Ministério Público, somente vê na prisão fechada a solução para o crime – leva, em fase acelerada, para o caos a sociedade, vítima final.

O sistema prisional – sob a égide de conceitos neoliberais – torna-se ‘negócio’ rendoso para a iniciativa privada, seja através do fornecimento de alimentação, seja pela administração prisional. Tudo pago com o dinheiro do povo.

Para quem tem prisão como ‘negócio’ quanto mais preso melhor.

A lucidez de uns poucos incomoda e nem é levada a sério. O dito por Darcy Ribeiro fora retomado, em termos práticos, pelo senador Roberto Requião, em 2014, quando alertava que dos que se encontram presos/confinados 43% o eram em regime provisório e dos restantes 57% mais de 80% “condenados por delitos de menor gravidade”.

No retrovisor da realidade – que não é recente – a omissão estatal do Poder Executivo (recursos), do Poder Judiciário (que condena e não faz cumprir ou fiscalizar a execução da pena) e do Ministério Público (que não cumpre com seus deveres de fiscalização da lei e dos direitos individuais entre eles) lança no colo da sociedade a tragédia, que se estenderá às ruas, na dimensão em que ocorre nos presídios.

Afinal, a formação de monstros exige alimento para eles. Nós. 

Aragão
Do ex-Ministro da Justiça, Eugênio Aragão:

“A casta judicial e a do ministério público são os maiores responsáveis, com seu cego punitivismo, pela tragédia que já há muito se anunciava: como as prisões não lhes dizem respeito, seguem entupindo-as com o “lixo humano” até o sistema enfartar. A saída da crise pressupõe, pois, mudança de atitude dos órgãos empenhados na persecução e jurisdição penais, carentes de uma política criminal que os faça priorizar alguns ilícitos sobre outros e não fingir que obedecem cegamente ao princípio da obrigatoriedade da ação penal, sem distinção.

Serra, ladrão
Nunca o caro leitor lerá isso na grande imprensa. Mas o fato é de fácil apuração: a famosa denúncia de Flávio Bierrembach (de que Serra era ladrão), que resultou numa ação de JS contra o acusador, que queria provar, na Justiça, o que tinha dito, através do instrumento processual denominado “exceção da verdade”.

José Serra desistiu de provar que não era ladrão. Para lembrar

E agora, Moro?
O tucanato em cheio – e José Serra em particular – é o resultado das delações da Odebrecht. A confirmação do desvio de 23 milhões, depositados em conta na Suíça, exige uma resposta do ‘justiceiro’ Sérgio Moro: pelo menos uma condução coercitiva do Ministro, através de um pedido ao STF.

Pedro Novis detalhou que parte do dinheiro foi entregue no Brasil e outra transferida por meio de depósitos bancários em contas no exterior, a de Ronaldo Cezar Coelho (PSDB), integrante da coordenação política do tucano em 2010.”

Que lindo!
Eis o ápice da punição para o ilustre intermediário/detentor da propina:

“Então, em novembro, o empresário que obteve recursos recebidos da Odebrecht e de outros investimentos na conta na Suíça, aderiu ao programa de regularização de ativos no exterior, pela Lei de Repatriação.

Para isso, pagou um montante de 30% de impostos e multas sobre o valor que estava na conta no exterior. Mas acabou preferindo não repatriar o dinheiro. Com a medida da Lei, Coelho fica isento da aplicação de punições referentes a sonegação fiscal,  apropriação indébita, crimes tributários, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Mas ao aderir ao programa de ativos no exterior, confirmou que parte desses recursos foram recebidos (sic) pela Odebrecht para a campanha de 2010 de José Serra.”

O crime efetivamente compensa. Para ladrão rico. Caso fosse pobre estaria perdendo a cabeça em qualquer rebelião de presídio.

O acidente
Incidente para o interino tornado presidente é detalhe. Não deixa de ter razão. 

Afinal o ‘acidente’ que o levou ao cargo não mereceu restrições, nem comentários. 

Como no mesmo tugir, o de Roraima.

Vai ser na base da ‘literatura jurídica’
O apoio de que Moro precisa vai se materializando. Na falta de provas (até estranhamente não obtidas para quem é acusado de ‘tantos’ crimes)  exige – dentro da lawfare – que esteja ‘legitimada’ qualquer iniciativa judicial contra Lula.

Pesquisa recente registra a crença da população, em 71%, de que Lula será preso em 2017 e – oh glória! – 51% acreditam que Lula é culpado do que lhe acusam.

Ou seja, a coisa programada está dando certo: a imprensa reverbera a culpa sem provas e a condenação virá por ‘convicção’.  Que já convenceu parcela da população.

Como fundamento doutrinário será utilizada a famosa teoria do domínio do fato que condenou a cúpula petista na AP 470: “não tenho provas... mas a literatura jurídica me autoriza a condenar" (Rosa Weber-STF).

Se não der certo a tempo a solução é o parlamentarismo ou a eleição indireta com prorrogação de mandato. 

Dedicação
Janaína Pascoal – aquela que recebeu 45 mil do PSDB para gerar uma absurda tese para o impeachment de Dilma – põe-se à disposição do paulistano para fiscalizar banheiros do Ibirapuera.

Que Lindo! E simbólico!

Reduzindo
O salário mínimo estava previsto para R$ 945,00. Foi reduzido para R$ 937,00. Retira da economia a bagatela de R$ 1,4 bilhão.

Mais 3 degolados em Manaus
Enquanto isso o Ministro da Justiça ensaia repetir sua 'boa ação' agrícola.